Cores brilhantes: devore-me por sua conta e risco
Autores
Hannah Gurholt, Retna Arun, Swanne P. Gordon, Udita Bansal
Jovens revisores

Resumo
Alguns animais peçonhentos usam cores brilhantes para se proteger de outros animais que querem comê-los. Essas cores brilhantes também são chamadas de cores de alerta. Sapos, cobras, borboletas, gambás e outros usam cores de alerta. Mas como esses animais obtêm suas cores brilhantes e venenos tóxicos? As cores de alerta podem ser transmitidas a certos animais por seus pais, e outros animais as obtêm dos alimentos que comem. Só porque alguns animais têm cores brilhantes não significa necessariamente que sejam tóxicos. Alguns animais, também conhecidos como imitadores, copiam as cores de animais tóxicos para se protegerem de serem comidos. Exploraremos como animais peçonhentos mostram suas verdadeiras cores e como animais não peçonhentos que exibem os mesmos sinais também podem ser protegidos de predadores. Você pode notar conexões semelhantes entre cores e sinais de alerta ao seu redor!
Como os animais se protegem de predadores?
Você já se perguntou como os animais se protegem para não serem comidos por outros animais? Existem algumas maneiras pelas quais os animais podem se proteger de predadores. Alguns se escondem dos predadores misturando-se com plantas, cascas de árvores e folhas ao seu redor, como as rãs-foguete e as lagartixas-de-cauda-de-folha, que vivem em florestas. As raposas-do-ártico também se misturam com a neve branca de seus habitats na tundra ártica (Figura 1A). Chamamos isso de coloração críptica, uma maneira pela qual alguns animais se escondem de predadores se misturando ao ambiente. É também conhecida como camuflagem.

(B) Animais aposemáticos que demonstram sinais de alerta incluem a rã-morango, a joaninha e o gambá-listrado. (C) A borboleta-vice-rei e a borboleta-monarca são tóxicas para predadores, sendo, portanto, exemplos de mimetismos müllerianos. A cobra-coral é tóxica, mas sua imitadora, a cobra-rei-escarlate, não. Este é um exemplo de um mimetismo batesiano (Copyright © 2023 Google Images).
Outros animais são brilhantes e coloridos. Esses animais costumam ser vermelhos, amarelos ou alaranjados, o que os ajuda a se destacarem do ambiente verde ou marrom e os torna fáceis de serem avistados por predadores. Isso parece não fazer sentido, certo? Por que os animais gostariam de se destacar e correr o risco de serem comidos? Um dos motivos para as cores brilhantes é mostrar aos predadores que são perigosos para comer! Essa estratégia é chamada de aposematismo [1] (Figura 1B).
Aviso! Eu sou perigoso!
Existem várias maneiras de os animais mostrarem aos predadores que são perigosos para o seu consumo. Primeiro, os animais precisam ter um sinal de alerta primário que os predadores possam ver (pense nas cores brilhantes das asas de uma borboleta-monarca), cheirar (pense nos respingos de um gambá) ou ouvir (pense no chocalho de uma cascavel). Em seguida, os animais terão uma defesa secundária para sinalizar sua aversão aos predadores, geralmente substâncias químicas venenosas chamadas toxinas – uma substância venenosa que pode fazer com que os animais que a comem sintam-se mal ou morram.
Este artigo se concentrará na coloração aposemática em animais, o que significa que a cor é usada como sinal de alerta. As cores brilhantes de alerta funcionam como um sinal que informa aos predadores que os animais têm uma defesa secundária, como a toxicidade. Isso significa que esses animais coloridos podem fazer com que os predadores se sintam mal ou morram se forem comidos. Se um predador sobreviver, ele aprende a evitar esses animais de cores brilhantes no futuro. Como os animais obtêm suas cores de alerta? Como descrevemos abaixo, eles podem obter suas cores de seus pais e/ou dos alimentos que comem.
Aposematismo dos pais
Assim como os humanos herdam características como a cor dos olhos, da pele e do cabelo dos pais, os animais podem herdar cores dos seus pais. Alguns animais aposemáticos são coloridos porque seus pais lhes transmitiram essas cores vibrantes. As cobras-corais têm listras vermelhas, pretas e amarelas no corpo, herdadas dos pais (Figura 1C). Elas possuem veneno e suas picadas podem ser mortais para predadores e humanos. Alguns mamíferos, como o gambá, também recebem sua coloração de alerta dos pais. Os predadores sabem evitar gambás e seus respingos fétidos devido à sua coloração listrada em preto e branco [2].
Você é o que você come: aposematismo da comida (e dos pais)
Alguns animais também possuem cores de alerta por causa do que comem (em combinação com o que herdam de seus pais). Seus alimentos podem lhes dar uma cor de alerta brilhante e fornecer toxinas que os tornam venenosos para predadores. Por exemplo, muitos animais obtêm suas cores brilhantes dos carotenoides em suas comidas — cores amarelas, laranja ou vermelhas encontradas em vegetais, borboletas-monarca, pulgões e joaninhas. Eles não são tóxicos. Os carotenoides são encontrados em muitos dos alimentos que você come, como cenouras, pimentões e beterrabas. A rã-morango tropical de cores vibrantes (Figura 1B) obtém sua cor de seus pais e de sua dieta de formigas, besouros e milípedes — que contêm carotenoides.
Além dos carotenoides, formigas e outros animais na dieta da rã-morango contêm toxinas que ela pode usar para se tornar tóxica. Já ouviu seus pais dizerem que você é o que você come? É mais ou menos o que acontece com a cor e a toxicidade da rã-morango. Se esses animais ingerem mais carotenoides ou toxinas, eles se tornam mais coloridos e mais tóxicos.
Carotenoides também são encontrados em plantas daninhas chamadas serralhas, que são comidas pela bela borboleta-monarca. Os carotenoides ajudam a dar às borboletas-monarca suas asas laranja brilhantes [3]. As borboletas-monarca também comem e armazenam uma substância química venenosa chamada cardenolídeo, que é encontrada na planta serralha e que as borboletas-monarca armazenam para se proteger de predadores. Embora os cardenolídeos sejam venenosos para os predadores da monarca, as monarcas são protegidas por um gene que herdam de seus pais, o que as ajuda a reduzir os efeitos negativos dos cardenolídeos. Os cardenolídeos não são disparados em spray, como faz um gambá, ou por uma mordida, como uma cobra. Em vez disso, as borboletas-monarca armazenam cardenolídeos tóxicos por todo o corpo, então, quando são comidas, o predador também come essas toxinas.
Outro animal que obtém sua cor de alerta dos carotenoides em sua comida é o pulgão-brilhante. Os pulgões são insetos sugadores de seiva amarelos ou alaranjados que também comem serralha. Eles obtêm sua cor da serralha e de seus pais. Como as monarcas, eles também podem armazenar cardenolídeos da serralha para se tornarem tóxicos. Um predador do pulgão evoluiu para usar as toxinas de sua presa: a bela joaninha. Joaninhas são besouros conhecidos por suas asas vermelhas com manchas pretas. Elas obtêm sua cor de seus pais e de sua dieta de pulgões contendo carotenoides. Elas obtêm sua toxicidade dos cardenolídeos armazenados nos pulgões que comem. Comer mais pulgões durante seu estágio larval (imaturo) aumenta as toxinas em seus corpos e as torna mais vermelhas.
O que acontece quando um predador come um animal tóxico?
Se um pássaro comer uma borboleta-monarca, os cardenolídeos tóxicos farão com que o pássaro vomite (Figura 2), já que os pássaros não têm proteção contra essas toxinas [4]. Após a experiência ruim, o pássaro aprende a evitar comer coisas que se parecem com a borboleta-monarca, incluindo outros insetos alaranjados. Este é um exemplo de uma experiência chamada aversão alimentar, quando um predador tem uma experiência ruim comendo um animal e aprende a evitar comê-lo no futuro. Humanos também podem sentir aversão alimentar! Assim como os pássaros, depois de ficarmos doentes por comer um determinado alimento, normalmente ficamos longe desse alimento por um tempo, com medo de que ele possa nos deixar doentes novamente.

Isso se chama aversão alimentar (Imagem desenhada por Weixin Du; Imagem original capturada por Lincoln Brower e publicada na Scientific American em 1969).
Animais brilhantes são sempre tóxicos?
Se um animal exibe uma cor de alerta e é tóxico, isso significa que está, honestamente, sinalizando sua toxicidade aos predadores. Às vezes, espécies tóxicas se copiam e emitem o mesmo sinal de alerta, de modo que os predadores aprendem a evitar ambas as espécies. Por exemplo, na Figura 1C, você deve ter notado a semelhança entre a borboleta vice-rei e a borboleta monarca. Essas duas espécies venenosas se tornaram semelhantes. Isso é conhecido como mimetismo mülleriano: um animal venenoso que copia o sinal de alerta de outro, de modo que os predadores aprendem a evitar ambos os animais.
No entanto, nem todo animal que exibe uma cor de alerta é tóxico — alguns animais têm uma cor de alerta, mas não são tóxicos. Certos animais não tóxicos imitam as colorações de alerta de outros animais tóxicos. Você pode chamar isso de trapaça! Esses são chamados de miméticos batesianos – um animal não venenoso copia o sinal de alerta de um animal venenoso, para que os predadores também o evitem. Ao contrário dos miméticos müllerianos, que são honestos sobre sua toxicidade, os miméticos batesianos são trapaceiros. Esses animais se aproveitam de predadores que evitam as cores brilhantes que aprenderam significar perigo. Os miméticos batesianos são protegidos porque se parecem com verdadeiros animais aposemáticos.
Um exemplo é a cobra-rei escarlate, que é uma imitação da cobra-coral nos Estados Unidos (Figura 1C). Essas cobras são tão parecidas que os americanos criaram uma rima para ajudar as pessoas a diferenciá-las, que em português ficaria mais ou menos assim: “Se o vermelho toca no preto, tá tudo bem, parceiro. Se o vermelho toca no amarelo, toma cuidado, Marcelo”. Isso significa que cobras com listras vermelhas e amarelas se tocando são perigosas! [5] Mas tenha cuidado, porque esse padrão se aplica às cobras-corais dos Estados Unidos. Em outros países, o padrão pode variar.
O aposematismo está por toda parte
Em resumo, o aposematismo é uma forma de presas perigosas chamarem a atenção para si mesmas e alertarem os predadores para não comê-las. Se você olhar lá fora, poderá reconhecer exemplos de aposematismo ao seu redor, como joaninhas, abelhas e vespas. Também há exemplos na sua própria vida! Placas de sinalização de trânsito costumam ser amarelo neon ou vermelho, para deixar o perigo claro para os motoristas. Ou pense em salgadinhos apimentados, que costumam ter cores mais chamativas, assim como sua embalagem (Figura 3). Que outros exemplos você consegue pensar? Pense profundamente sobre as cores que você vê ao seu redor e o que elas estão lhe dizendo. Seja honesto e não tenha medo de ser ousado e mostrar um pouco de cor!

Existem até cores aposemáticas nos alimentos que comemos. Por exemplo, salgadinhos apimentados geralmente têm tons de vermelho mais vibrantes (tanto nos salgados quanto na embalagem) do que os tradicionais (Copyright © 2023 Google Images).
Glossário
Coloração Críptica: Uma maneira pela qual alguns animais se escondem de predadores, camuflando-se com o ambiente. Também conhecida como camuflagem.
Aposematismo: Estratégia de defesa usada contra predadores, na qual um sinal de alerta é combinado com um mecanismo de defesa.
Toxina: Substância venenosa que pode fazer com que os animais que a comem se sintam doentes ou morram.
Carotenoide: Cores amarelas, laranja ou vermelhas encontradas em vegetais, borboletas-monarca, pulgões e joaninhas. Elas não são tóxicas.
Cardenolídeo: Substância química venenosa presente na planta serralha que as borboletas-monarca armazenam para se proteger de predadores.
Aversão alimentar: Quando um predador tem uma experiência ruim comendo um animal e aprende a evitar comê-lo no futuro.
Mimético Mülleriano: Um animal venenoso que copia o sinal de alerta de outro, para que os predadores aprendam a evitar ambos os animais.
Mimético Batesiano: Um animal não venenoso que copia o sinal de alerta de um animal venenoso, para que os predadores também o evitem.
Referências
[1] Rojas, B., Valkonen, J., e Nokelainen, O. 2015. Aposematism. Curr. Biol. 25:R350–R351. doi: 10.1016/j.cub.2015.02.015
[2] Stankowich, T., Caro, T., e Cox, M. 2011. Bold coloration and the evolution of aposematism in terrestrial carnivores. Evolution 65:3090–3099. doi: 10.1111/j.1558-5646.2011.01334.x
[3] Davis, A. K., Cope, N., Smith, A., e Solensky, M. J. 2007. Wing color predicts future mating success in male monarch butterflies. Ann. Entomol. Soc. Am. 100:339–344. doi: 10.1603/0013-8746(2007)100339:WCPFMS2.0.CO;2
[4] Brower, L. P. 1969. Ecological chemistry. Sci. Am. 220:22–29. doi: 10.1038/scientificamerican0269-22
[5] Callaway, E. 2014. Snakes mimic extinct species to avoid predators. Nature. doi: 10.1038/nature.2014.15397
Citação
Arun R, Gurholt H, Bansal U e Gordon SP (2024) Bright Colors: Eat Me at Your Own Risk. Front. Young Minds. 12:1270515. doi: 10.3389/frym.2024.1270515
Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da Creative Commons Attribution License (CC BY). O uso, distribuição ou reprodução em outros fóruns é permitido, desde que o(s) autor(es) original(is) e o(s) proprietário(s) dos direitos autorais sejam creditados e que a publicação original nesta revista seja citada, de acordo com a prática acadêmica aceita. Não é permitido nenhum uso, distribuição ou reprodução que não esteja em conformidade com estes termos.
Encontrou alguma informação errada neste texto?
Entre em contato conosco pelo e-mail:
parajovens@unesp.br