A Terra e seus Recursos Ideias fundamentais 10 de abril de 2024, 16:58 10/04/2024

Como a mudança climática afeta o lugar onde você vive?

Autores

Jovens revisores

A ilustração retrata um grupo de pessoas reunidas, todas com expressões preocupadas olhando para o planeta Terra disposto entre elas. Uma das pessoas segura uma lupa, examinando o globo, que parece desanimado, com um termômetro na boca. Ao redor, veem-se árvores cortadas e fábricas lançando fumaça de suas chaminés.

Resumo

Recentemente, os cientistas têm observado grandes mudanças no clima do nosso planeta. Embora as mudanças climáticas sejam uma questão global, seus efeitos não são os mesmos em todo o mundo. Cada continente, cada país e cada área experimentam efeitos diferentes. Esses efeitos incluem velocidades diferentes de aquecimento (ou, em alguns locais, de resfriamento), bem como alterações na quantidade de chuvas e na queda de neve. Uma vez que o clima é algo global, é possível que mudanças em outros lugares impactem a região em que você vive. Neste artigo, você aprenderá de que modo as mudanças climáticas afetaram vários lugares da Terra até agora. Mostraremos também que tipo de mudanças climáticas podemos esperar no futuro.

O que mudou no clima da Terra?

Nas últimas décadas, houve uma elevação na temperatura do ar na Terra. Quais foi a causa dessa elevação? As temperaturas mais quentes estão relacionadas com as emissões de gases de efeito estufa, incluindo a liberação de dióxido de carbono (CO 2 ) na atmosfera. As emissões de gases de efeito estufa são causadas, principalmente, pelas atividades humanas, tais como a queima de combustíveis fósseis para alimentar os nossos carros e produzir eletricidade. A quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera também está aumentando por causa da diminuição das áreas florestais na Terra. Nós experimentamos essas mudanças climáticas, provocadas pelo homem, na forma de fenômenos como a temperatura média do ar e a precipitação média durante um determinado período.

A temperatura média global aumentou 1,2°C desde o final do século 19. As Figuras 1A e 1B mostram a temperatura global média do ar para 2018 e 2020, comparadas com o período passado de 1981 a 2000. Apesar do espaço de apenas um ano, houve grandes diferenças nos padrões de mudança de temperatura.

Em 2018, o Ártico estava mais quente, exceto em uma parte da Sibéria. Ao mesmo tempo, a América do Norte estava mais fria do que antes (Figura 1A). No entanto, em 2020, o Ártico ficou muito mais quente, sobretudo na Sibéria (Figura 1B). Ao mesmo tempo, algumas regiões da Antártica ficaram mais frias do que antes. O que isso significa? Esses dados mostram que o clima muda naturalmente um pouco a cada ano e é normal que alguns anos sejam mais frios ou mais quentes do que outros. Mas quando calculamos a média da temperatura do globo inteiro, vemos que ele ficou muito mais quente durante os últimos 40 anos (Figura 1C). Embora em 2018 fizesse mais frio do que nos anos anteriores, suas temperaturas médias anuais foram muito mais quentes em comparação às observadas nos anos de 1980. As temperaturas mais altas já registradas foram nos últimos anos (2016 e 2020).

Figura 1. (A) Diferença na temperatura média do ar entre 2018 e os anos de 1981-2000. (B) Diferença na temperatura média do ar entre 2020 e os anos 1981-2010. O vermelho mostra temperaturas mais quentes e o azul temperaturas mais frias que nos anos passados. (C) Temperaturas médias globais do ar de 1981 a 2020. Note que o círculo e o quadrado na cor laranja marcam os anos 2018 e 2020 mostrados em (A, B).

Quais são as consequências do aquecimento global? Bem, por exemplo: desde o final dos anos 1970, a área congelada do oceano Ártico diminuiu cerca de 4% a cada 10 anos [1]. Os glaciares estão ficando mais finos e menores não só nas regiões polares como a Antártica, a Groelândia e a América do Norte, mas também nas regiões de altas montanhas, como as do sul dos Andes e da Ásia [1].

O oceano também está ficando mais quente: nos últimos tempos, sua superfície aqueceu 0,11°C a cada década [1]. Isso causou o chamado branqueamento dos corais. De 2014 a 2017, o branqueamento dos corais afetou mais de 70% dos recifes de corais do mundo. Eventos climáticos severos, como inundações e tempestades, têm ocorrido com maior frequência em todo o planeta. O nível do mar aumentou por causa do aquecimento do oceano e do derretimento das geleiras, e isso afeta as áreas costeiras. O nível médio global do mar aumentou de 1mm a 2 mm a cada ano ao longo do século 20 e agora sobe mais de 3 mm a cada ano; além disso, a velocidade dessa elevação do nível do mar está aumentando [1]. Devido à atividade humana, a quantidade de CO2 no ar aumentou mais de 40% desde 1750 [1].

Como sabemos o que vai acontecer no futuro?

Os cientistas usam modelos climáticos para entender o que aconteceu no clima da Terra no passado e o que provavelmente acontecerá no futuro. Esses modelos são executados em computadores e usam fórmulas complexas que descrevem as ligações entre o ar, o oceano, a terra e as regiões cobertas de gelo. Em todo o mundo, centros de pesquisa criam modelos usando diferentes cenários de emissões de gases do efeito estufa (tais como a quantidade de CO 2 que é liberada na atmosfera). Esses modelos ajudam a explicar as mudanças que precisaremos implantar nas atividades humanas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

Os modelos climáticos também levam em conta o futuro aumento da população mundial e as mudanças na economia mundial (desenvolvimento mais sustentável ou maior utilização de combustíveis fósseis, investimento em saúde e educação, e mudanças nas estratégias climáticas). Na melhor das hipóteses, as pessoas vão adotar medidas urgentes para reduzir suas emissões de gases do efeito estufa e, como resultado, as alterações climáticas irão se abrandar. Na pior das hipóteses, nada será feito para reduzir as emissões de CO2 e o aquecimento global continuará a piorar.

Como diferentes locais serão afetados pelas mudanças climáticas no futuro?

No futuro, espera-se que a temperatura média em todo o mundo suba. No entanto, algumas regiões podem aquecer de forma mais rápida do que outras.

Conforme mostrado nas Figuras 2A e 2B, as regiões terrestres, provavelmente, irão aquecer mais depressa do que os oceanos. Ao mesmo tempo, o Ártico esquentará mais rapidamente do que os trópicos.

Esse aquecimento desigual é causado por diferenças no tipo de superfície. A terra aquece mais rapidamente do que a água, o que leva a um aquecimento mais lento dos oceanos. O Ártico muda mais rapidamente do que as regiões tropicais devido a um processo denominado amplificação do Ártico. A amplificação do Ártico acontece porque o gelo marinho, mais branco, reflete mais luz solar do que o oceano, mais escuro, que absorve a maior parte da luz solar que o atinge. A absorção da luz solar causa o aquecimento dos oceanos e leva ao derretimento do gelo marinho. O derretimento do gelo marinho aumenta a área do oceano mais escura, que então absorve ainda mais luz solar e fica ainda mais quente, derretendo mais gelo marinho. Esse processo continua.

Figura 2. Diferença na temperatura do ar entre o futuro (2015-2099) e o passado (1980-2014). (A) No melhor cenário possível (desenvolvimento sustentável), em que agimos para diminuir as emissões de CO2 , o aumento da temperatura do ar fica abaixo de 4°C. (B) No pior cenário (desenvolvimento à base de combustíveis fósseis), onde as emissões de CO2 aumentam, um aquecimento de 8°C é esperado. As cores vermelhas mostram mais aquecimento. (C) Registro de temperatura de 1980 a 2099. Você pode ver que no melhor cenário possível (linha azul) o aumento na temperatura média anual fica abaixo de 2°C em 2099, enquanto no pior cenário possível (linha vermelha) pode ir até 5°C.

Se nada for feito, espera-se que a temperatura global do ar aumente 2°C até o ano de 2050. Até o ano de 2100, espera-se um aumento de 5°C. No entanto, se agirmos agora para reduzir as emissões de CO2, o aquecimento global poderá ultrapassar os 2°C até 2100 (Figura 2C) [2].

Dado que as alterações climáticas não acontecem de forma igual em todo o mundo, as pessoas sofrerão impactos diferentes dependendo do local onde vivam [3]. A Figura 3 mostra como a mudança climática futura afetará áreas específicas.

Se você mora em uma região costeira, poderá esperar mais inundações, devido ao aumento do nível do mar. Por outro lado, espera-se que as regiões do interior tenham, em média, menos chuva, o que aumentará a seca e os incêndios florestais em muitas regiões. No caso das grandes cidades, os carros e as fábricas geram poluição, que afeta a saúde humana. Nas regiões rurais, as mudanças climáticas afetarão a agricultura o que prejudicará o abastecimento de alimentos.

Também não podemos esquecer os oceanos e a criosfera – a parte congelada da Terra. Essas áreas desempenham papéis importantes em muitos sistemas terrestres, pois os oceanos e a criosfera são responsáveis pela absorção e distribuição de CO2 e de calor. Isso significa que podem também acelerar o aumento da temperatura ao modificar o modo de absorção e distribuição do calor. O aquecimento global continuará a reduzir o gelo marinho, os glaciares e as camadas de gelo em áreas que incluem a Antártica. Essas mudanças não afetam apenas os humanos, afetam igualmente os ecossistemas de animais que vivem nessas áreas geladas.

Figura 3. Efeitos possíveis das mudanças climáticas sobre regiões específicas no futuro.

Em certas regiões, espera-se mais incêndios florestais na América do Norte, principalmente na Costa Oeste (por exemplo, na Califórnia). Ao mesmo tempo, espera-se mais inundações nas regiões costeiras. Na América Central, é provável que os furacões ocorram com mais frequência.

Na América do Sul, a Amazônia talvez receba menos chuvas, o que provocará secas e afetará a vida animal e vegetal nessa região. Mudanças similares são esperadas na África, onde a seca poderá afetar a saúde da população humana devido aos efeitos sobre o abastecimento de alimentos e água. Na Oceania, é provável que haja menos chuvas, o que pode causar mais incêndios florestais e temperaturas extremamente altas. Nessa área, o aumento da temperatura do oceano está causando o branqueamento dos corais. O branqueamento de corais está associado à perda de espécies vegetais e animais, algumas das quais só existem em regiões como a Grande Barreira de Corais.

Na Europa, é provável que a temperatura do ar seja mais alta e haja menos chuva, o que poderá causar temperaturas extremamente quente, e secas mais frequentes. Essas mudanças afetam a agricultura e a produção de energia. Na Ásia, as mudanças esperadas variam dependendo da região: temperaturas extremamente altas, secas, chuvas fortes, derretimento de geleiras, incêndios florestais e mais poluição podem ocorrer nessa área. Devido ao crescimento populacional em toda a Ásia, muitas pessoas serão afetadas. A Figura 3 mostra previsões de como várias regiões serão afetadas pelas mudanças climáticas no futuro.

Resumo

Durante os últimos 40 anos, as temperaturas globais do ar aumentaram cerca de 1°C, com importantes impactos já sendo observados, embora eles dependam da região onde você mora. No futuro, o aquecimento global deverá continuar, com algumas regiões esquentando mais rapidamente que as outras. Se reduzirmos as emissões de CO2, o aumento da temperatura do ar no mundo poderá ser de mais do que 2º em 2100; do contrário, nessa data, talvez seja de 5º.

Como você pode ajudar a reduzir as mudanças climáticas? Primeiro, é importante que continue aprendendo mais sobre como nosso planeta funciona para entender o clima, e o que está causando as mudanças climáticas e seus impactos. Você pode começar mudando coisas simples em sua rotina diária para minimizar o aquecimento global, como caminhar, andar de bicicleta ou reciclar. Com essa informação você pode instruir seus pais e amigos sobre esse assunto e tentar convencê-los a mudar alguns de seus hábitos que possam ajudar a reduzir as mudanças climáticas.

Glossário

Gases de efeito estufa: Gases provenientes de atividades humanas que vão para a atmosfera da Terra e retêm o calor do sol, levando ao aquecimento global. Os exemplos são o dióxido de carbono (CO2), o metano e o vapor de água.

Emissões: Quantidade de gases do efeito estufa liberados na atmosfera.

Branqueamento de corais: Situação em que os corais perdem sua fonte de alimento, tornando-se brancos e mais vulneráveis às doenças. Isso pode acontecer devido às mudanças na temperatura, na luz ou nos nutrientes.

Modelos climáticos: Modelos executados em computadores e baseados em fórmulas complexas para simular os fatores que possam afetar o clima da Terra, tais como as ligações entre o ar, o oceano e as regiões cobertas de gelo.

Amplificação do Ártico: Fenômeno conhecido como o aquecimento mais rápido do Ártico em comparação com outras regiões do mundo, durante as últimas décadas.

Criosfera: A parte da superfície da Terra com água congelada (neve e gelo, sobre a terra ou o oceano).

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer à jovem revisora pelo tempo e as sugestões valiosas para este artigo. CV contou com o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FTC), Portugal (Ph.D. referência de concessão nº SFRH/BD/129154/2017) e do FCT/MCTES via apoio financeiro ao CEMS (concessão nº. UIDP/50017/2020, UIBD/50017/2020 e LA/0094/2020), por intermédio de fundos nacionais. PW e AF receberam financiamentos do governo australiano como parte do programa Iniciativa de Colaboração Científica da Antártida.

Referências

[1] IPCC. 2013. Climate change 2013. The Physical Science Basis. Contribution of Working Group / to the Fifth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Changes, orgs. T. F. Stocker, D. Qin, G.-K. Plattner, M. Tignor, S. K. Allen, J. Boschung et al. (Cambridge; New York, NY: University Press), p. 1535.

[2] Semmler, T., Danilov, S., Gierz, P., Goessling, H., Hegewald, J., Hinrichs, C. et al. 2020. “Simulations for CMIP6 with the AWI Climate Model AWI- CM-1-1.” J. Adv. Model. Earth Syst. 12:e2019MS002009. DOI: 10.1029/2019MS002009.

[3] Arnell, N.W., Lowe, J. A., Challinor, A. J. e Osborn, T. J. 2019. “Global and regional impacts of climate change at diferent levels of global temperature increase.” Clim. Change. 155:377–91. DOI: 10.1007/s10584-019-02464-z.

Citação

Viceto, C., Wongpan, P. e Fraser, A.D. (2022). “How will climate change affect where you live?”. Front. Young Minds. 10:702690. DOI: 10.3389/frym.2022.702690.

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