Matemática 10 de agosto de 2022, 10:24 10/08/2022

Como os cientistas usam de estatística, amostras e probabilidade para responder a perguntas formuladas na pesquisa

Autores

Jovens revisores

Ilustração de uma professora ensinando probabilidades para uma aluno

Resumo

Estudos mostram que uma pessoa média faz cerca de vinte perguntas por dia! Algumas dessas perguntas são, é claro, bem simples, como indagar do professor se você pode ir ao banheiro; outras, porém, podem ser mais complexas, de difícil resposta. É aí que entra a estatística! Ela nos permite tirar conclusões de um conjunto de dados e por isso costuma ser chamada de “Ciência dos Dados”. Também ajuda profissionais da indústria a responder a perguntas de pesquisa ou negócios e prevê desfechos como o espetáculo a que você gostaria de assistir da próxima vez em seu aplicativo de vídeo favorito. No caso de um cientista social como o psicólogo, a estatística é uma ferramenta útil para fazer análise de dados e responder a perguntas de pesquisa.

Perguntas de pesquisa

Os cientistas fazem inúmeras perguntas que podem ser respondidas pela estatística. Por exemplo, um psicólogo pesquisador talvez esteja interessado no modo como o teste de desempenho é afetado pela quantidade de sono de um aluno na véspera. Psicólogos, biólogos e muitos outros tipos de cientistas procuram responder a perguntas sobre uma população ou um grupo de indivíduos. Digamos que um biólogo queira estudar um tipo específico de ave como população de pesquisa; que um psicólogo do desenvolvimento resolva pesquisar crianças de 3 a 6 anos; ou que um médico-cientista se interesse por pacientes com uma certa doença. O tipo de análise estatística a ser realizado dependerá da pergunta feita e das variáveis medidas. Variáveis são fatores, traços ou condições que podem existir em diferentes quantidades ou tipos, como altura, idade ou temperatura.

Amostras de uma população

Quando procuramos responder a perguntas de pesquisa, nem sempre é possível coletar informações de todos na população que nos interessa. Por exemplo, ao averiguar se o sono afeta o teste de desempenho, é praticamente impossível coletar informações sobre o sono e testar pontuações de cada estudante no mundo! Por isso, coletamos dados de uma amostra de indivíduos que melhor represente a população. É importante que as características da amostra sejam similares às da população como um todo. Os cientistas sociais se asseguram de que suas amostras tenham grupos etários e étnicos parecidos com os da população como um todo. Se não tivermos certeza de que nossas amostras apresentam o mesmo tipo de características da população em geral, haverá problemas para responder às nossas perguntas de pesquisa (Figura 1).

 
Figura 1. Amostragem aleatória é o método de escolha de uma amostra que represente acuradamente a população. Nesse método, cada indivíduo da população pode ser selecionado para a amostra. No exemplo, cada cor na população está presente também na amostra e as proporções de cada cor estão igualmente representadas nela.

Suponhamos que uma veterinária queira calcular o peso médio de todos os cães. Ela coleta uma amostra de cinco cães para pesar, encontra o peso médio da amostra e conclui que esse peso se situa entre 4,5 kg e 7 kg. Se você gosta de cães, talvez ache que há algo errado com esses números. Alguns cães são bem maiores e seria então de esperar que a média fosse mais alta. E se a veterinária coletou uma amostra apenas de chihuahuas? Nesse caso, não podemos dizer, é claro, que todos os cães pesam entre 4,5 kg e 7 kg: a amostra continha exemplares de apenas uma raça e não representava todos os tipos de cães. Se a veterinária tivesse uma amostra que representasse melhor a população de todos os cães, obteria sem dúvida uma média de peso bem diferente.

Um bom método de selecionar indivíduos para uma amostra que represente mais de perto uma população é a amostragem aleatória. Os cientistas a usam para garantir que cada indivíduo na população tenha igual probabilidade de ser selecionado – e isso assegura que a amostra seja mais parecida com a população em geral.

Estimativa com base numa amostra

Depois que o cientista reúne a amostra, talvez resolva tirar conclusões sobre ela e estender os achados à população inteira. Por exemplo, talvez queira saber o número médio de horas de sono de crianças de 12 anos à noite ou a altura média de alunos do curso colegial nos Estados Unidos. A fim de obter o valor de uma variável numa população (como a altura média), os cientistas recorrem à estimativa pontual a partir da amostra. Uma estimativa pontual é um número que calcula o verdadeiro valor de uma variável numa população (e muitas vezes ela é uma média).

Por exemplo, se quisermos encontrar o número médio de crianças por lar na cidade de Chicago, reuniremos uma amostra aleatória de famílias em Chicago e perguntaremos a cada uma delas quantas crianças vivem na casa. Em seguida, com base nessa informação, poderemos calcular o número médio de crianças nessas casas a fim de obter a estimativa pontual. Poderemos então concluir que o número médio de crianças em nossa amostra é bem parecido com o número médio de crianças em todas as casas de Chicago (Figura 2).

Figura 2. Em vez de ir a cada casa de Chicago para obter o número médio de crianças por lar, os cientistas coletam uma amostra. Aqui, o número de crianças de cada casa na amostra foi coletado e calculou-se a média da amostra. O cientista concluiu que Chicago tem uma média de duas crianças por lar e essa é uma estimativa pontual.

Métodos de medição e amostragem nunca são exatos, de modo que os cientistas aplicam intervalos de confiança à estimativa pontual a fim de obter um leque de valores que provavelmente contenha a verdadeira média de uma variável na população. Para calcular o intervalo de confiança, é necessário primeiro obter a margem de erro, ou seja, a quantidade calculada que aumentará ou diminuirá uma estimativa pontual. Trata-se de uma maneira de representar numericamente cálculos imprecisos ou erros na amostragem da população (por exemplo, quando uma amostra não é totalmente representativa da população).

Vamos calcular um intervalo de confiança, para treinar! Imagine que coletamos uma amostra de 49 estudantes para um estudo do sono e descobrimos que a quantidade média de sono para eles é 10,5 h (nossa estimativa pontual). Em seguida, precisamos encontrar o desvio padrão, que é a distância entre o ponto de dados de cada pessoa e a média total. Um desvio padrão pequeno significa que quase todos os dados estão próximos, em valor, da média; e um grande desvio padrão significa que os dados estão mais espalhados por mais valores. Em nosso exemplo, digamos que o desvio padrão seja 1,5 h. Precisamos então calcular a margem de erro usando a seguinte fórmula:

Nessa fórmula, s representa o desvio padrão (1,5 h) e n se refere ao número de pontos de dados em nossa amostra (49 pessoas). Substituindo os símbolos por seus valores correspondentes, obtemos uma margem de erro de 0,42 h de sono. Para completar os intervalos de confiança, adicionamos a margem de erro à nossa estimativa pontual (ou a subtraímos dela) a fim de encontrar os limites superior e inferior do intervalo de confiança. Os psicólogos costumam usar o intervalo de confiança de 95% para calcular a margem de erro, ou seja, podemos ter certeza de que, em 95% do tempo, nosso intervalo de confiança encerra a verdadeira média da população. Nosso intervalo de confiança para a estimativa pontual, nesse exemplo, seria 10,5 +- 0,42 h ou 10,08 e 10.92. Isso significa que, em 95% do tempo, o número de horas de sono dos estudantes na população geral situa-se entre 10,08 e 10,92 h (Figura 3).

Figura 3. Os intervalos de confiança nos mostram um leque de valores que, provavelmente, contém o verdadeiro valor populacional de uma variável. O exemplo mostra a média de horas de sono em nossa amostra (10,5 h). A barra mostra o intervalo de 95% de confiança em torno da média, com 0,42 h de sono adicionado à média (ou subtraído dela) a fim de fornecer a margem de erro. O intervalo de confiança mostra que a verdadeira média de horas de sono dos estudantes na população geral situa-se entre 10,08 e 10,92 h de sono.

Os cientistas podem reduzir a margem de erro de várias maneiras a fim de tornar mais precisa sua estimativa da população. Uma delas é reunir mais indivíduos na amostra para que esta seja mais representativa da população. Outra maneira de reduzir a margem de erro é certificar-se de que a coleção de dados esteja o mais livre possível de erros a fim de minimizar a variabilidade desses dados, como, por exemplo, verificar se todas as ferramentas de medição (tabelas, levantamentos, réguas, etc.) são acuradas. Quanto mais acuradamente a amostra representar a população, graças ao emprego de amostragem aleatória e boas práticas de coleta de dados, menor será a margem de erro e mais preciso será o intervalo de confiança para a estimativa do verdadeiro valor da população.

Perguntas de pesquisa mais complexas

Às vezes, os cientistas querem ir além da descrição de cálculos simples como idade e altura médias nas populações a fim de compreender seus aspectos mais complicados. Digamos que não estamos interessados apenas em saber a quantidade de sono dos estudantes, mas em descobrir também quantos pontos haverá a menos no teste depois que eles perderem algumas horas de sono. Tamanhos de efeito são valores que estimam a magnitude de um fenômeno ou o grau em que uma variável (como as horas de sono) afeta outra variável (como o teste de pontuação).

Por exemplo, se dormir apenas 3 h abaixar seu teste em alguns pontos, em comparação com 9 h de sono, você não deve “perder o sono” por causa disso. Há uma diferença na pontuação, mas não muito grande. No entanto, se depois de perder 6 h de sono você cair muitos pontos no teste, isso terá um sério impacto em sua qualidade de vida. Então, você certamente concordará em que o efeito da perda de sono em sua saúde é importante.

Há várias maneiras de calcular o tamanho de efeito, dependendo da pergunta de pesquisa e do tipo de estatística usado pelo cientista. Depois de obter o tamanho de efeito, ele pode determinar se este é pequeno, médio ou grande. Os tamanhos de efeito permitem ao cientista, bem como a qualquer pessoa encarregada de revisar dados, entender melhor a influência que certas variáveis exercem em outras, na população.

Conclusões

Os cientistas fazem diversos tipos de perguntas e há muitas maneiras de responder a elas por meio da estatística. Os exemplos que discutimos neste artigo são maneiras pelas quais os cientistas respondem a questões simples com base em amostras. Mas a estatística não se limita a nenhum campo ou área específicos da pesquisa científica: ela tem ajudado cientistas a constatar a eficácia de determinados remédios e engenheiros a garantir a segurança do veículo que você dirige. E não para por aí: há incontáveis perguntas a que podemos responder por meio da estatística.

Glossário

População: Grupo identificado de indivíduos sobre os quais os cientistas fazem  perguntas e querem obter respostas. 

Variável: Fator, traço ou condição que existem em diferentes quantidades ou tipos medidos em pesquisa.

Amostragem aleatória: Maneira de selecionar indivíduos de uma população de modo a garantir que cada um deles tenha a mesma probabilidade de ser selecionado.

Estimativa pontual: Estimativa de determinado valor em uma população, como uma média.

Intervalos de confiança: Leque de valores atribuídos a estimativas pontuais que provavelmente contém o verdadeiro valor de uma variável na população.

Margem de erro: Quantidade calculada que se soma a uma estimativa pontual (ou dela se subtrai) para ser levada em conta em caso de imprecisão ou erro.

Desvio padrão: Distância média entre cada ponto de dados e a média total.

Tamanho de efeito: Valor que explicita a diferença entre médias de variáveis.

Leitura adicional

Cumming, G. 2013. Understanding the New Statistics: Effect Sizes, Confidence Intervals, and Meta-Analysis. New York, NY: Routledge.

Citação

Sandef, J. e Robbins, A. (2019). “How scientists use statistics, samples, and probability to answer research questions.” Front. Young Minds 7:118. DOI: 10.3389/frym.2019.00118.

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