Cuide de seu cérebro: o que você precisa saber sobre as concussões
Autores
Caroline J. Ketcham, Eric E. Hall
Jovens revisores
Resumo
As concussões são lesões no cérebro que podem resultar em vários tipos de mudanças no funcionamento desse órgão: mudanças na maneira como você pensa (mudanças cognitivas), na maneira como seu cérebro funciona (mudanças neurológicas) e na maneira como você se sente (alterações físicas e emocionais).
As concussões podem ser causadas por acidentes em que você bate a cabeça em algum objeto, seja o chão, uma árvore ou outra pessoa. É importante conhecer os sinais e sintomas de uma concussão, bem como o que é preciso fazer para que seu cérebro se cure de forma correta. É importante também saber como prevenir as concussões.
Introdução
Cinco macaquinhos estavam pulando na cama, um caiu e bateu a cabeça – muitas de nossas atividades envolvem correr, pular e brincar. Às vezes, as atividades são organizadas, como por exemplo nos jogos de futebol ou basebol. Outras vezes você inventa jogos em seu quintal com os amigos, anda de trenó quando a neve aparece ou empreende outras aventuras divertidas na natureza. Todos esses jogos e aventuras são importantes para seu corpo e seu cérebro. Praticar essas atividades é bom para seu corpo, pois o tornam mais forte. Elas também ajudam seu cérebro a aprender a raciocinar e resolver problemas.
Aventura e exploração constituem uma grande parte da infância e é bom crescer fazendo aquilo de que se gosta. Mas acidentes acontecem, até com macacos pulando em camas! A cada ano, milhões de crianças se machucam ao andar de bicicleta e trenó ou praticar esportes. Algumas dessas lesões são visíveis, como um corte ou um osso quebrado. Entretanto, o cérebro pode ser lesionado também, mesmo que você não consiga ver. É importante você saber o que deve ser feito para proteger seu cérebro de sérias lesões e quais providências deverá tomar caso ache que pode ter machucado a cabeça. A melhor coisa a fazer se você machucou a cabeça é dar um tempo para se recuperar apropriadamente e depois conversar com os outros sobre o que está sentindo. Então poderá voltar às suas aventuras e explorações – porque essas coisas são importantes também.
O que é uma concussão?
Uma concussão é uma lesão no cérebro causada por um movimento abrupto da cabeça, geralmente devido a um golpe ou solavanco tanto no crânio quanto no corpo, que faça o cérebro se mover rapidamente dentro da caixa craniana (Figura 1).
A lesão que daí resulta é chamada de lesão cerebral traumática leve, mais conhecida como concussão. Há várias definições de concussão, mas todas têm algumas coisas em comum. Essas características comuns são mudanças na função cerebral, incluindo alterações na maneira de pensar (mudanças cognitivas), no funcionamento do cérebro (mudanças neurológicas) e na maneira de sentir (mudanças físicas e emocionais). Essas alterações podem ou não ser acompanhadas de perda temporária de consciência, também conhecida como desmaio [1]. O movimento abrupto do cérebro costuma estirar e ferir células cerebrais, alterando a forma como elas funcionam. Essas alterações cerebrais podem ser de curta ou longa duração, mas na maioria dos casos as células cicatrizam e voltam a funcionar normalmente de sete a dez dias [2].
Às vezes, são necessários mais que dez dias para o cérebro retornar ao normal depois de uma concussão, especialmente em crianças. Como não é possível “ver” as mudanças que acontecem em seu cérebro ou até que ponto ele está se recuperando, é muito importante conhecer os sinais e os sintomas de uma concussão – e contar a um adulto o que você está sentindo. Dessa forma, todos podem ter uma ideia melhor de como seu cérebro está se recuperando [3].
Sintomas de uma concussão
Quando você bate a cabeça, os seguintes sinais e sintomas podem ser percebidos imediatamente ou levar algumas horas e até um dia para aparecer. Como você sabe se tem uma concussão? Normalmente, as pessoas relatam que “não se sentem bem”. Eis aqui alguns dos sintomas que você pode notar em si mesmo caso tenha uma concussão [4]:
- Dor de cabeça ou “pressão” na cabeça;
- Náusea ou vômito;
- Problemas de equilíbrio ou tontura; visão dupla ou embaçada;
- Incômodo com luz ou barulho;
- Sensação de confusão, letargia, turvamento ou vertigem;
- Problemas de atenção, concentração ou memória;
- Sensação de “não se sentir bem” ou “deprimido”.
Outras pessoas, como amigos, parentes e companheiros de equipe, também ajudam a determinar se você tem uma concussão, porque podem perceber certos sinais ou sintomas que você mesmo não percebe. Eis alguns dos sinais comuns que eles podem observar em uma criança com concussão:
- A criança não consegue se lembrar de eventos que aconteceram antes ou depois da batida ou queda;
- A criança parece atordoada ou confusa;
- A criança esquece as instruções do treinador, se atrapalha com a posição em campo ou não tem certeza quanto ao andamento do jogo, placar ou adversário;
- A criança se move desajeitadamente;
- A criança responde às perguntas lentamente;
- A criança perde a consciência (mesmo por breves instantes);
- A criança apresenta alterações de humor, comportamento ou personalidade.
Esses sinais e sintomas geralmente são muito sérios e pode ficar difícil para você fazer as coisas que desejaria. Portanto, se apresentar esses sintomas ou percebê-los em outra pessoa, é muito importante comunicá-los a um adulto.
Que devo fazer se tiver uma concussão?
Se, após um acidente, você não estiver se sentindo bem e achar que pode ter uma concussão, é muito importante que relate seus sintomas a um adulto. Dependendo de onde você estiver quando a lesão acontecer, esse adulto poderá ser um professor, treinador ou seus pais. Às vezes, os atletas não querem relatar que talvez tenham tido uma concussão porque querem continuar jogando ou têm medo de decepcionar seu time. É importante lembrar que você está ferido e sua saúde é mais importante do que ganhar ou perder um jogo!
Se achar que um amigo não parece estar bem depois de ser atingido na cabeça, também deve ajudá-lo, certificando-se de que ele conte a um adulto ou relatando você mesmo o que aconteceu. Como muitas vezes é difícil saber se ocorreu de fato uma concussão, os pais e médicos confiarão em que você vá ser honesto e dirá a eles quais sintomas está tendo. Se começar a se sentir pior, é muito importante contar a alguém.
Que devem fazer pais e treinadores caso suspeitem de que uma criança teve uma concussão?
As concussões são especialmente perigosas porque você não pode ver a lesão; entretanto, os adultos esperam que a criança relate ter sido atingida na cabeça e descreva quaisquer sintomas possivelmente relacionados a uma concussão. Os adultos devem observar a criança ferida para ver se há alguns sinais de uma concussão e se ela está agindo diferentemente ou apenas não parece bem no momento. Se um adulto suspeitar que a criança teve uma concussão, ela precisa ser removida do jogo ou interromper sua atividade a fim de ser observada. É, então, necessário procurar atendimento médico adequado para a avaliação da criança, para que ela possa receber o tratamento certo. Pais e treinadores devem estimular a criança a relatar que foi atingida na cabeça e possivelmente teve uma concussão. Além disso, os adultos não podem permitir que ela volte a brincar até ser liberada por um médico.
Quando alguém que teve uma concussão pode voltar a brincar ou frequentar a escola?
Agora você sabe que é importante deixar seu cérebro se curar depois de uma concussão, antes de se meter em novas aventuras e ir à escola. Mas como saber que seu cérebro está pronto para voltar?
Os sinais e sintomas de uma concussão são o melhor critério para avaliar o progresso da cura. A recomendação é pelo menos 24–48 h em completo repouso físico e mental. Isso significa que não haverá telas (por exemplo, mensagens de texto, TV e computador) nem corrida, pulos, giros ou balanços. Você precisará também ficar fora da escola porque pensar e resolver problemas exige muito do cérebro.
Após as primeiras 24-48 horas, você pode voltar ao médico para recomeçar algumas atividades e ver como se sente ao praticá-las. Os sintomas voltaram? Por exemplo, você pode tentar ler um pouco ou caminhar. Como se sente? Continue aumentando a quantidade de trabalho que seu cérebro faz e daquilo a que ele está exposto, incluindo ruídos altos e luzes brilhantes.
Se a qualquer momento seus sintomas se agravarem, interrompa a atividade por um pouco mais de tempo. Diga então a seus pais ou a um professor que você não se sente bem. Seu cérebro ainda está se curando. Quando a leitura, a tela, as luzes e os ruídos não parecerem agravar os sintomas, então tente acelerar sua frequência cardíaca para ver o que acontece. Corra ou dê um passeio de bicicleta; se os sintomas retornarem, fique mais algum tempo parado.
É muito fácil machucar de novo o cérebro enquanto ele está em processo de cura. Portanto, deixe-o curar-se completamente antes de voltar às aventuras, explorações e esportes. Durante o período de recuperação, continue sendo honesto acerca de seus sintomas, sem deixar de ouvir as recomendações de seu médico e seus pais [5].
Como evitar uma concussão?
Agora você sabe que é muito importante proteger seu cérebro, mas também ser aventureiro. Então responda: como você protege seu cérebro? Torcemos para que você use um capacete quando anda de bicicleta e pratica skate ou esqui. Mas coloca um quando desliza de trenó ou na tirolesa? Essas também são aventuras que podem levá-lo a bater em uma árvore ou no chão duro com força suficiente para lhe causar uma concussão.
O capacete é uma ótima proteção para seu cérebro, embora você ainda possa ter uma concussão enquanto está usando um. Alguns Estados têm leis sobre as atividades que requerem o uso do capacete e a idade exigida para isso (é obrigatório até os 16 anos), mas não há lei nenhuma que o impeça de usá-lo; assim, esteja tão seguro quanto possível e use um capacete sempre que fizer qualquer aventura!
Você deve usar também protetor de cabeça durante os esportes, como o capacete para futebol americano ou a almofada para artes marciais. Usar proteção para a cabeça pode parecer um pouco estranho no começo, mas é melhor prevenir que remediar. Alguns esportes exigem o uso de capacetes e, nesses casos, é útil certificar-se de que o seu se encaixa bem em você. Se não, experimente outro que se ajuste melhor. Quando notar qualquer rachadura ou dano no capacete, informe seu treinador, para que ele possa substituí-lo ou consertá-lo.
É também importante aprender bem as técnicas e regras do jogo. Seu treinador lhe ensinará como enfrentar o adversário ou cabecear uma bola de futebol. Ouça cuidadosamente e use seus músculos, não sua cabeça, para jogar. Se não usar a técnica adequada, poderá pôr você mesmo ou outro jogador em risco de uma concussão. Exemplos de desempenho adequado incluem avançar com a cabeça erguida no futebol e não usar o taco como arma no hóquei ou no lacrosse.
Embora você possa obter muitas informações pela TV e notícias relacionadas aos efeitos a longo prazo das concussões, os cientistas ainda têm muito a aprender (para obter mais informações, consulte o site do CDC [4]). Pode haver efeitos a longo prazo de uma ou muitas concussões, embora não saibamos ao certo. Mas os esportes são benéficos para você de outras maneiras, desde que os pratique com a maior segurança possível. E não se esqueça: conte a alguém se bater a cabeça para que sejam tomadas as devidas providências. Com um cérebro devidamente curado, você poderá fazer tudo de que gosta. Como as mães sempre dizem, “chega de macaquinhos pulando na cama”.
Referências
[1] Carney, N., Ghajar, J., Jagoda, A., Bedrick, S., Davis-O’Reilly, C., du Coudray, H. et al. 2014. “Concussion guidelines step 1: systematic review of prevalente indicators.” Neurosurgery 75 (S1): S3–15. DOI: 10.1227/NEU. 0000000000000433.
[2] Giza, C. C. e Hodva, D. A. 2014. “The new neurometabolic cascade of concussion.” Neurosurgery 75 (S4): S24–33. DOI: 10.1227/NEU. 0000000000000505.
[3] McCrory, P., Meeuwisse, W. H., Aubry, M., Cantu, R. C., Dvořák, J., Echemendia, R. J. et al. 2013. “Consensus statement on concussion in sport: the 4th International Conference on Concussion in Sport, Zurich, November 2012.” J. Athl. Train. 48 (4): 554–75, DOI: 10.4085/1062-6050-48.4.05.
[4] Center of Disease Control. 2016. “Heads Up.” Disponível em: http://cdc.gov/headsup.
[5] Hall, E. E., Ketcham, C. J., Crenshaw, C., Baker, M., McConnell, J. e Patel, K. 2015. “Concussion management in collegiate student-athletes: return-to- academics recommendations.” Clin. J. Sport. Med. 25(3): 291–6. DOI: 10.1097/JSM.0000000000000133.
Citação
Ketcham, C. e Hall, E. (2016) “Caring for your brain: what you need to know about concussions.” Front. Young Minds. 4:17. DOI: 10.3389/frym. 2016.00017.
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