Microplásticos: pequenas partículas, grande ameaça
Autores
Carlos M. Duarte, Cecilia Martin, Silvia Arossa, Susann Rossbach
Jovens revisores
Estelle, Istituto Comprensivo Alta Val Di Sole, Julia, Marco
Resumo
Você já deve ter ouvido falar que a poluição plástica vem se tornando um sério problema para o ambiente, sobretudo para os oceanos. Quando um pedaço de plástico chega ao mar, a água salgada e a luz do sol vão lentamente fragmentando-o em pequenas partículas. Essas partículas minúsculas recebem o nome de microplásticos e são menores que uma joaninha – às vezes, sequer são visíveis. Os cientistas descobriram que alguns animais marinhos confundem os microplásticos com alimento e comem-nos! E quanto aos animais dos recifes? Muitos desses, inclusive corais e moluscos, ficam presos ao fundo do mar e não se movem. Assim, não conseguem escapar dos microplásticos que, literalmente, “chovem” em cima deles. Há pouco, descobrimos que inúmeros animais de recifes não apenas comem microplásticos como ficam com eles colados a seus corpos, como moscas num papel pega-moscas!
Que são microplásticos?
Pense na quantidade de objetos plásticos que usamos diariamente: em casa, na escola, na rua. Alguns são usados apenas por poucos segundos e em seguida jogados no lixo. É por isso que mais e mais plásticos precisam ser produzidos todos os dias. No mundo inteiro, cerca de 1.000.000 de toneladas de plásticos são fabricadas diariamente. Isso equivale a mil caminhões carregados de garrafas plásticas!
O que acontece a uma garrafa dessas ou a uma caneta quando paramos de usá-las? Na maioria das cidades, a reciclagem é uma prática comum e o plástico é reutilizado para a fabricação de novos objetos. Infelizmente, isso não acontece em todos os lugares ou com todos os objetos. Canetas e marcadores, por exemplo, não podem ser reciclados porque contêm tinta. Esses objetos vão parar em aterros sanitários. Às vezes, as pessoas não seguem as regras e jogam plásticos em qualquer lugar em vez de depositá-los na lata de lixo de material reciclável. Então, eles são levados pela enxurrada e despejados em rios, quando não no oceano.
Você sabia que, depois de cair no mar, uma garrafa plástica leva centenas de anos para se desintegrar completamente [1]? Durante esse tempo, a garrafa pode dar a volta ao globo, transportada pelas correntes marinhas. Pelo caminho, as ondas, correntes, luz solar e reações químicas fragmentam garrafas e outros grandes pedaços de lixo plástico, chamados de macroplásticos, em pedaços minúsculos, chamados de microplásticos (Figura 1) [2]. No caso de alguns tipos de lixo plástico, a transformação de macroplástico em microplástico pode exigir até mil anos! Certos itens que usamos diariamente já contêm microplásticos, como dentifrícios, detergentes e produtos para a pele. Os microplásticos descem pelo ralo quando tomamos banho ou escovamos os dentes, podendo também chegar ao oceano.
Por que os microplásticos são um perigo para nossos oceanos?
Supõe-se, quase sempre, que as partículas plásticas flutuem na superfície do oceano. Isso é verdade para pedaços leves como os fragmentos de sacos e copos plásticos; porém, microplásticos mais pesados, como os que se originam de alguns brinquedos, afundam na coluna de água e pousam no fundo do mar. Assim, o plástico pode estar em qualquer parte do oceano!
Partículas plásticas são frequentemente confundidas com alimento por alguns animais marinhos famintos, que então enchem seus estômagos com plástico em vez de comida. Isso se aplica igualmente a macroplásticos e microplásticos, mas quanto mais diminutos são os pedaços, maior é a probabilidade de serem engolidos e entrarem na cadeia alimentar. Imagine um peixe pequeno que coma microplásticos por engano. Se um peixe maior comer alguns desses peixinhos, ficará com os microplásticos que estavam no estômago deles. Assim, o peixe maior terá multiplicado a quantidade de plásticos dentro de seu corpo. Se essa série de comer e ser comido prosseguir, mais e mais plásticos acabarão dentro de animais predadores [3]. A isso se chama bioacumulação (Figura 2).
Os cientistas observaram que comer microplásticos pode causar problemas de saúde nos animais marinhos. Por exemplo, às vezes as partículas são muito afiadas e machucam o estômago ou todo o sistema digestivo. Além disso, quando seu estômago está cheio de plásticos, os animais se sentem saciados e não comem alimentos saudáveis, acabando por morrer de fome! As partículas plásticas também podem agir como pequenas esponjas que absorvem substâncias químicas, especialmente quando viajam pelo oceano durante muito tempo. Se esses plásticos embebidos de substâncias químicas forem comidos por animais marinhos, poderão causar inúmeros problemas de saúde, como incapacidade de reprodução.
Microplásticos em recifes de coral
Embora os cientistas que pesquisam a poluição plástica saibam que muito lixo plástico acaba por chegar ao Mar Vermelho, só conseguiram encontrar pouca quantidade dele flutuando na superfície ou suspensa da coluna de água. Os cientistas então se perguntaram para onde ia o lixo que faltava! Uma possibilidade é que as partículas plásticas estejam “chovendo” nos recifes de coral, onde ficam presas [4].
Os recifes de coral são ecossistemas dos mais importantes porque oferecem proteção e alimento a muitos outros organismos que têm ali sua morada. O que torna os recifes de coral especiais é o fato de sua estrutura ser constituída pelos esqueletos rígidos dos corais, que em geral são as partes mais visíveis destes animais. Mas há outros animais importantes encontrados ali, como os moluscos gigantes, que vivem incrustados entre os corais (Figura 3B).
Os moluscos gigantes obtêm alimento sugando água e comendo todas as partículas minúsculas que nela flutuam. Os corais também podem agarrar essas partículas usando os tentáculos de seus pólipos, que são sua parte viva localizada dentro do esqueleto (Figura 3A). Como tanto os corais quanto os moluscos gigantes permanecem presos ao fundo do oceano, têm de esperar que partículas de alimento passem perto deles. E, ainda, não conseguem se proteger dos plásticos que chovem sobre eles.
Experimentos com corais e moluscos gigantes
Os cientistas quiseram descobrir como os corais e os moluscos gigantes interagem com partículas plásticas na água. Vários tipos de corais e moluscos gigantes foram coletados do Mar Vermelho e colocados em aquários. Microplásticos verdes fluorescentes, que brilham intensamente para poderem ser vistos, foram acrescentados à água (Figuras 3C, D). O experimento com corais durou 24–28 horas; com moluscos, 12 dias. No final do experimento, usando um microscópio, os cientistas contaram os fragmentos de microplásticos encontrados dentro do estômago dos animais e grudados na parte de fora de seu corpo (nos esqueletos dos corais ou nas conchas dos moluscos).
Constataram que cada coral havia ingerido 80 partículas de plástico por dia (1–2 partículas para cada 10 pólipos) e cada molusco gigante, 8 partículas por dia. A verdadeira surpresa foi que milhares de partículas microplásticas foram encontradas presas à superfície dos corais e moluscos gigantes (Figuras 3E, F). A quantidade de microplásticos grudados aos esqueletos dos corais (processo chamado de adesão) era 40 vezes maior que a quantidade ingerida por eles. Os moluscos gigantes tinham 60 vezes mais plásticos grudados em suas conchas do que dentro de seus corpos! Essa foi a primeira evidência de que a adesão de partículas de plásticos a organismos oceânicos é altíssima [5, 6]!
Por que a adesão de plásticos é um problema?
A descoberta de que partículas plásticas podem grudar na superfície de corais e conchas de moluscos gigantes é de fato importante por várias razões. Em primeiro lugar, como os corais e moluscos são calcificadores (ou seja, fabricam seus próprios esqueletos e conchas a partir de uma substância chamada carbonato de cálcio), os microplásticos aderidos podem penetrar nessas estruturas. Isso torna o recife inteiro mais fraco ou causa problemas de saúde aos corais e moluscos. Em segundo lugar, os esqueletos dos corais e as conchas dos moluscos são muitas vezes a morada de outros organismos como peixes pequenos, camarões, vermes ou algas minúsculas.
Todos esses organismos podem então, com mais facilidade, entrar em contato com plásticos potencialmente prejudiciais grudados na superfície dos moluscos e corais. Por último, mas não menos importante, a grande quantidade de microplásticos que os cientistas viram grudados nas estruturas dos recifes explica por que não encontraram nas águas do Mar Vermelho tanto plástico quanto esperavam – esse mar possui um dos mais extensos sistemas de recifes de coral do mundo.
Os cientistas esperam que esse estudo ajude as pessoas a entenderem o impacto negativo que o plástico exerce em todos os organismos marinhos e por que é tão importante reduzir sua quantidade nos oceanos. Todos podem ajudar nessa missão! Por exemplo, que tal preferir objetos reutilizáveis a plásticos descartáveis? Pense nas sacolas de compras, nas garrafas e copos de água. Quando isso não for possível, deveremos dispor o lixo plástico nas latas certas, para reciclagem. Se todos procurarmos reduzir o uso de plásticos e descartá-los adequadamente, ajudaremos a proteger nossos oceanos e os animais que neles vivem da grande ameaça apresentada pelas minúsculas partículas de plástico.
Glossário
Microplásticos: Fragmentos de plástico com menos de 5 mm de diâmetro.
Coluna de água: Espaço ocupado por água do mar desde a superfície até o fundo do oceano.
Cadeia alimentar: Diferentes organismos, desde plantas minúsculas até baleias, que comem uns aos outros.
Bioacumulação: Processo pelo qual substâncias tóxicas se acumulam nos organismos que comem outros.
Ecossistema: Todos os seres vivos e coisas encontrados em uma área, como plantas, animais, organismos microscópicos, água, solo e rochas.
Pólipos: Organismos minúsculos que vivem dentro de um coral ou são responsáveis pela formação de seu esqueleto.
Adesão: Processo mediante o qual uma partícula gruda em uma superfície.
Calcificador: Organismo que usa o carbonato de cálcio (o mesmo material de nossos ossos) para formar seu esqueleto.
Fonte original do artigo
Arossa, S., Martin, C., Rossbach, S. e Duarte, C. M. 2019. “Microplastic removal by Red Sea giant clam (Tridacna maxima).” Environ. Pollut. 252:1257–66. DOI: 10.1016/j.envpol.2019.05.149.
Referências
[1] Ioakeimidis, C., Fotopoulou, K. N., Karapanagioti, H. K., Geraga, M., Zeri, C., Papathanassiou, E. et al. 2016. “The degradation potential of PET bottles in the marine environment: an ATR-FTIR based approach.” Sci. Rep. 6:23501. DOI: 10.1038/srep23501.
[2] Barnes, D. K., Galgani, F., Thompson, R. C. e Barlaz, M. 2009. “Accumulation and fragmentation of plastic debris in global environments.” Philos. Trans. R. Soc. Lond. B. Biol. Sci. 364:1985–98. DOI: 10.1098/rstb.2008.0205.
[3] von Moos, N., Burkhardt-Holm, P. e Köhler, A. 2012. “Uptake and effects of microplastics on cells and tissue of the blue mussel Mytilus edulis L. after an experimental exposure.” Environ. Sci. Technol. 46:11327–35. DOI: 10.1021/es302332w.
[4] Martí, E., Martin, C., Cózar, A. e Duarte, C. M. 2017. “Low abundance of plastic fragments in the surface waters of the Red Sea.” Front. Mar. Sci. 4:333. DOI: 10.3389/fmars.2017.00333.
[5] Arossa, S., Martin, C., Rossbach, S. e Duarte, C. M. 2019. “Microplastic removal by Red Sea giant clam (Tridacna maxima).” Environ. Pollut. 252:1257-66. DOI: 10.1016/j.envpol.2019.05.149.
[6] Martin, C., Corona, E., Mahadik, G. A. e Duarte, C. M. 2019. “Adhesion to coral surface as a potential sink for marine microplastics.” Environ. Pollut. 255:113281. DOI: 10.1016/j.envpol.2019.113281.
Citação
Arossa, S., Martin, C., Rossbach, S. e Duarte, C. (2021). “Microplastics: small particles, big threat.” Front. Young Minds. 9:608621. DOI: 10.3389/frym.2021.608621.
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