Biodiversidade Ideias fundamentais 7 de fevereiro de 2024, 15:46 07/02/2024

Monitoramento dos migrantes: como rastrear os animais que transitam por nossos parques

Autores

Jovens revisores

Ilustração de uma mulher com um binóculo observando a natureza.

Resumo

Animais migrantes conseguem fazer longas viagens entre as estações. Essas viagens podem ser arriscadas e os cientistas monitoram os migrantes nos parques dos Estados Unidos para ajudar a detectar perigos e encontrar soluções. No entanto, os migrantes são difíceis de monitorar. Às vezes, eles ficam no parque apenas por alguns dias, o que pode exigir muito trabalho para encontrá-los durante a estação adequada, usando-se técnicas especializadas. Mas o esforço vale a pena! Os pássaros são alguns dos migrantes mais conhecidos e seus observadores vão aos parques toda primavera para ajudar a contá-los.

As borboletas e morcegos migrantes são menos conhecidos e monitorá-los exige mais esforço. As borboletas-monarcas são etiquetadas com adesivos numerados especiais e as vozes dos morcegos são gravadas à noite em computadores especiais. Esses monitoramentos de atividades revelam onde, quando e quantos migrantes surgem no parque. Se descobrirmos por meio do monitoramento que eles estão escasseando, podemos soar o alarme e conseguir ajuda para esses animais especiais.

Os parques são lares importantes para os migrantes!

A migração é um comportamento notável realizado por muitas espécies de animais. Assim como as pessoas que se dirigem para climas mais quentes antes dos meses frios do inverno, muitos animais recorrem à migração de longa distância para escapar às intempéries. Às vezes, os migrantes fogem de situações difíceis, quando o alimento começa a faltar. Você sabia que algumas aves, como o falcão-noturno-comum e a andorinha-do-mar-ártica, viajam milhares de quilômetros a cada primavera e outono, entre a América do Norte e a América do Sul? Beija-flores, que não pesam mais que um punhado de clipes de papel, atravessam o Golfo do México sem escala. Outros viajantes famosos de longa distância são o morcego-cinzento, Lasiurus cinereus, e a borboleta-monarca. 

Na América do Norte, os migrantes dependem fortemente dos parques nacionais dos Estados Unidos e de outros habitats protegidos que oferecem comida e abrigo abundantes. Na verdade, dependendo da localização, os migrantes utilizam os parques para todas as fases da migração: áreas de invernada, escalas migratórias na primavera e no outono e áreas de reprodução no verão. Os migrantes são membros importantes de comunidades de animais dentro desses parques nacionais.

Os migrantes levam vidas difíceis, mas podemos ajudar!

A migração consome uma quantidade extraordinária de energia e percorrer distâncias tão longas é perigoso. Muitos migrantes não sobrevivem à viagem! Essa é uma das razões pelas quais as espécies migratórias são frequentemente consideradas raras e em risco de extinção. Muitas necessitam de nossos cuidados. Além disso, às vezes, nossos visitantes passam algum tempo, fora da temporada, em habitats que não vemos e que já não são saudáveis para eles. Esses habitats degradados contribuem para o declínio populacional que podemos observar à medida que os migrantes se deslocam pelos parques nacionais dos Estados Unidos – precisamos contar os migrantes que passam por ali todos os anos para ter certeza de que o mesmo número regressa. Isso nos ajuda a detectar diminuições preocupantes e soar o alarme. 

Por exemplo, no início da década de 1990, cresceu a preocupação entre os cientistas e membros da comunidade que contam falcões migratórios na primavera e no outono a cada ano, em lugares como a Golden Gate National Recreation Area, na Califórnia, o Grand Canyon National Park, no Arizona, e o Acadia National Park, no Maine. Eles notaram que uma espécie, os falcões de Swainson, estava em apuros. Os falcões de Swainson viajam milhares de quilômetros todos os anos entre seus terrenos de invernada na Argentina e suas áreas de nidificação de verão nas pastagens do oeste da América do Norte! Descobriu-se que milhares de falcões de Swainson estavam morrendo durante o inverno na Argentina por comerem gafanhotos cheios de produtos químicos agrícolas tóxicos, os chamados pesticidas [1]. Essa descoberta forçou o uso de pesticidas mais seguros no cultivo de alimentos na Argentina e em todo o mundo.

Existem aves migratórias em parques nacionais!

Os pássaros são um grupo preferido de animais que existem nos parques nacionais. Todos os anos, os observadores de aves auxiliam ornitólogos profissionais, os cientistas que estudam aves, a rastreá-las nesses parques (Figura 1). Na primavera, temos as toutinegras, os tangarás, os beija-flores e os papa-figos de cores vivas que passam o inverno na América Central e do Sul e cruzam os parques para criar filhotes durante o verão na América do Norte. Chamamos esses pássaros de migrantes neotropicais. Dado que comem insetos ou partes de plantas em floração (como néctar, frutas e sementes), eles são forçados a seguir seu suprimento de alimentos para o sul quando chega o inverno. Voando até um quilômetro e meio acima do solo, muitas vezes à noite, alguns migrantes neotropicais acabam viajando vários milhares de quilômetros rumo a seu destino. Para resistir às longas viagens, eles engordam um pouco antes de viajar. 

Figura 1. Mentes jovens no trabalho! Jovens assistentes participam de uma observação de falcões durante a estação de migração na Golden Gate National Recreation Area (Estados Unidos, Califórnia; crédito da foto: Alison Taggart-Barone, Parks Conservacy). 

Existem também pássaros que passam o inverno em parques nacionais. Todo mês de dezembro, os parques dos Estados Unidos promovem a contagem Christmas Bird Count. Por exemplo, no Parque Nacional de Yosemite, na Califórnia, essa contagem anual começou em 1932! Usamos dados de muitos anos para entender como as populações de aves mudaram ao longo do tempo. Às vezes, temos surpresas – beija-flores ou outros migrantes neotropicais que nunca partiram para o inverno, ou aves árticas como a coruja-das-neves, que são empurradas para o sul, em direção a parques fora do Ártico, durante fortes tempestades. 

Etiquetamos borboletas em parques nacionais!

As borboletas-monarcas migram de parques como o Great Smoky Mountains National Park para as montanhas do interior do México e vice-versa. Essa é uma maneira muito incomum de uma borboleta sobreviver a invernos rigorosos. Na verdade, a monarca é a única espécie de borboleta conhecida pela migração de ida e volta. Outras espécies de borboletas sobrevivem ao inverno em locais frios apenas permanecendo imóveis, como ovos, ou como filhotes em uma concha protetora chamadas pupa. As monarcas dependem de um tipo de planta, a serralha, para alimentar seus filhotes (que são lagartas). Conservar a serralha ao longo das estradas e fazendas é uma das maneiras mais importantes de ajudar as borboletas-monarcas. 

Todos os anos, entomologistas profissionais (cientistas que estudam borboletas e outros insetos), auxiliados por voluntários da comunidade, trabalham juntos para capturar, etiquetar e liberar delicadamente milhares de borboletas-monarcas. Você acreditaria que animaizinhos tão delicados podem realmente ser etiquetados? Embora dispositivos de rastreamento GPS possam ser instalados em alguns animais maiores, a etiqueta da monarca é um adesivo leve e numerado posto em sua fina asa (Figura 2).

Ele não transmite informações como um rastreador GPS, mas o entomologista que tiver a sorte de capturar a monarca novamente durante uma pesquisa pode descobrir de onde ela veio lendo a etiqueta. É assim que descobrimos as rotas de migração da borboleta-monarca [2]. Munidos dessa informação, podemos então proteger as plantas de serralha ao longo da rota.

Figura 2. Borboleta monarca com uma etiqueta na asa, Great Smoky Mountains National Park (Carolina do Norte e Tennessee, Estados Unidos; crédito da foto: Great Smoky Mountains Institute, em Tremont). 

Até gravamos a voz dos morcegos nos parques!

Existem mais de 50 espécies de morcegos nos parques nacionais dos EUA! Durante o inverno, alguns deles hibernam em cavernas, enquanto outros migram para o sul a fim de evitar o frio. Algumas de nossas espécies de morcegos migratórios mais difundidas incluem o morcego-cinzento, o morcego-vermelho e o morcego-de-pelo prateado. Essas três espécies, que se alimentam de insetos, criam seus filhotes durante o verão em parques por todo o norte dos EUA e sul do Canadá. Depois, seguem para o sul dos EUA e para o México durante o inverno, para ter um suprimento constante de moscas e mariposas para comer. 

Como os cientistas monitoram os morcegos? A resposta começa pela compreensão da ecolocalização dos morcegos. Você sabia que a maioria dos morcegos encontra seu caminho no escuro e persegue suas presas gritando? Isso é verdade! Bem, a maioria não grita – sussurra –, mas todos fazem barulho com as cordas vocais, assim como os humanos e outros mamíferos. Não ouvimos os morcegos gritando porque eles emitem esses sons em frequências muito altas.

Descrevemos a voz dos morcegos como ecolocalização porque ela é emitida em alta frequência e eles ouvem os ecos de seus próprios gritos. Usam esses ecos para evitar obstáculos em seu caminho, como rochas, árvores e até outros morcegos. O eco também os ajuda a perseguir e capturar insetos voadores, como moscas. Com computadores à prova de intempéries e microfones sintonizados com a alta frequência da voz dos morcegos, podemos ouvir e gravar os sons que eles emitem. 

Figura 3. Cientistas instalam um “detector” de morcegos a fim de gravar sons de ecolocalização no Smith Rocks State Park (Oregon, EUA) como parte do Programa Norte-Americano de Monitoramento de Morcegos. Observe o microfone no alto do poste (crédito da foto: Oregon State University-Cascades). 

Cientistas se uniram por toda a América do Norte a fim de formar uma equipe chamada Programa Norte-Americano de Monitoramento de Morcegos, que grava morcegos dentro e fora dos parques durante o verão [3]. Os sons gravados dos morcegos nos dizem onde e quando eles aparecem. Com o tempo, podemos descobrir se uma espécie como o morcego-cinzento está aparecendo em menos lugares devido às perdas de habitat ou indo para outros devido às mudanças climáticas [4].

Morcegos são muito sensíveis a alterações em seus ambientes. As mudanças climáticas, que resultam em períodos de seca mais longos, invernos mais curtos e primaveras mais precoces, podem forçar os morcegos a transferirem suas áreas de distribuição para o norte. Esses tipos de mudanças também podem impedir que encontrem alimentos suficientes para armazenar como reservas de gordura e, assim, sobreviver à hibernação e criar filhotes. 

Conclusão

Os parques nacionais dos Estados Unidos abrigam uma variedade estonteante de vida animal. Monitoramos as populações do maior número possível de animais, incluindo os migrantes que não permanecem ali por muito tempo. Alguns desses migrantes se mostram muito sensíveis às mudanças no ambiente, como o aumento de pesticidas, o desaparecimento de plantas alimentares importantes como a serralha e as alterações climáticas. A monitoração dos migrantes nos ajuda não só a compreendê-los e protegê-los como também a detectar grandes mudanças no ambiente. 

Monitorar pássaros, borboletas e morcegos é divertido não apenas para cientistas profissionais. Pessoas de todas as idades e formações podem participar de passeios de observação de pássaros e etiquetagem de borboletas. Com um pouco de esforço extra, você pode até aprender a operar um computador para gravar a ecolocalização de morcegos e participar do Programa de Monitoramento de Morcegos da América do Norte. Em algumas partes do país, há morcegos cujos sons de baixa intensidade podem facilmente ser ouvidos sem um computador especial. Nós monitoramos esses morcegos de voz mais grave apenas escutando-os [5]. Corra ao parque mais próximo para nos dar uma mãozinha! 

Glossário

Parques nacionais dos Estados Unidos: O Serviço Nacional de Parques nos Estados Unidos consiste em mais de 300 parques, monumentos e locais históricos como memoriais de guerra e campos de batalha. Esse serviço começou com a criação do Parque Nacional de Yellowstone e foi formalmente estabelecido pelo Congresso dos Estados Unidos em 1916, com a aprovação do Ato Orgânico nesse mesmo ano. 

Ornitólogo: Cientista especializado no estudo dos pássaros. 

Migrantes neotropicais: Espécies de pássaros, borboletas, morcegos e outros organismos migratórios que passam parte do ano na América tropical (por exemplo., países da América Central como o Panamá). 

Pupa: Etapa importante do ciclo de vida dos insetos. 

Entomologista: Cientista especializado no estudo de insetos e, portanto, de borboletas. 

Hibernar: Alguns mamíferos, incluindo morcegos, hibernam para sobreviver durante o inverno, diminuindo a temperatura do corpo, reduzindo as funções corporais e usando reservas de gordura armazenadas em seu corpo. 

Ecolocalização: Processo usado por morcegos e outros mamíferos, incluindo golfinhos, para fazer barulho usando suas cordas vocais e ouvindo o próprio eco para se locomover e perseguir a presa. 

Conflito de interesses

O autor declara que a pesquisa foi realizada sem nenhuma relação financeira ou comercial capaz de gerar um conflito de interesses. 

Referências

[1] Goldstein, M. I., Lacher, T. E., Zaccagnini, M. E., Parker, M. L. e Hooper, M. J. 1999. “Monitoring and assessment of Swainson’s hawks in Argentina following restrictions on Monocrotophos use, 1996-97.” Ecotoxicology 8:215–24. DOI: 10.1023/A:1026448415467. 

[2] Inamine, H., Ellner, S. P., Springer, J. P. e Agrawal, A. A. 2016. “Linking the continental migratory cycle of the monarch butterfly to understand its population decline.” Oikos 125:1081–91. DOI: 10.1111/oik.03196. 

[3] Reichert, B. E., Bayless, M., Cheng, T. L., Coleman, J. T. H., Francis, C M., Rodhouse, T. J. et al. 2021. “NABat: a top-down, bottom-up solution to collaborative continental-scale monitoring.” Ambio 50:901–13. DOI: 10.1007/s13280-020-01411-y. 

[4] Rodhouse, T. J., Rodriguez, R. M., Banner, K. M., Ormsbee, P. C., Barnett, J. e Irvine, K. M. 2019. “Evidence of region-wide bat population decline from long-term monitoring and Bayesian occupancy models with empirically informed priors.” Ecol. Evol. 9:11078–88. DOI: 10.1002/ece3.5612. 

[5] Rodhouse, T. J., Rose, S., Hawkins, T. e Rodriguez, R. M. 2021. “Audible bats present opportunities for citizen scientists.” Conserv. Sci. Practice 2021:e435. DOI: 10.1111/csp2.435. 

Citação

Rodhouse, T. e Daw, S. (2022). “Monitoring the migrators: tracking the animals passing through our parks.” Front. Young Minds. 10:696621. DOI: 10.3389/frym.2022.696621. 

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