O desenvolvimento dos talentos no esporte: como chegar ao sucesso?
Autores
Camilla J. Knight, Victoria M. Gottwald
Jovens revisores
Resumo
No mundo inteiro, bilhões de crianças praticam esportes e muitas são reconhecidas como talentosas. No entanto, só algumas se tornam atletas de elite. De fato, é mais fácil ser atingido por um raio do que se tornar um atleta de elite! Mas então como aqueles que chegaram ao topo conseguiram realizar essa façanha? O que permite que um jovem atleta talentoso se torne um astro internacional? Neste artigo, vamos revisar informações básicas sobre desenvolvimento de talento e responder a algumas perguntas importantes: com que idade devo começar a praticar meu esporte? Devo me concentrar em um esporte ou tentar vários? “Fracassar” na jornada para o estrelato tem algum valor? Percorreremos vários caminhos que se abrem para o desenvolvimento do talento e veremos por que alguns podem ser melhores do que outros. Também examinaremos os fatores que aumentam as chances de sucesso de um atleta.
Você já se perguntou o que pode aumentar ou diminuir suas chances de se tornar um atleta de elite? Bem, a resposta curta é: MUITAS coisas! Algumas você consegue controlar e modificar; outras, não. Certos fatores dizem respeito a você como pessoa; outros, ao ambiente em que vive. Neste artigo, discutiremos algumas dessas coisas a fim de ajudá-lo a entender como os atletas de elite chegaram ao topo.
Onde você nasceu e onde mora?
Parece incrível, mas uma coisa capaz de influenciar suas chances de se tornar um futuro campeão é o mês em que nasceu! Se você for um dos mais novos da equipe ou em seu ano de competição, seus companheiros e adversários devem ser maiores e mais fortes que você, pois nasceram primeiro e tiveram mais tempo para crescer.
Muitos adultos se esquecem disso e, quando observam equipes ou classificam crianças como talentosas, geralmente escolhem as maiores e mais fortes, e ignoram que elas podem apenas ser mais velhas. Essas crianças então ficam com os melhores treinadores, as melhores instalações e as melhores oportunidades de desenvolver suas habilidades esportivas, tornando-se assim mais confiantes. Elas portanto têm maiores probabilidades de se tornarem atletas de elite. Se você for um dos mais novos em sua equipe, não desista! Insistir pode deixá-lo mais forte e os cientistas demonstraram que, se continuar a se esforçar poderá se tornar realmente bom. O nome disso é “a vitória do azarão” [1]!
Quem é você e o que pensa sobre vitória e derrota?
Possuir certas características de personalidade pode ajudá-lo a se tornar um atleta de elite. Parte da personalidade existe desde o nascimento e é uma questão de genes. Mas outra parte se desenvolve à medida que a pessoa cresce, por influência dos pais e da experiência que ela vai acumulando. Os cientistas demonstraram que os superatletas, ganhadores de montes de medalhas nas Olimpíadas, não têm personalidades iguais às daqueles que ganham só algumas ou nenhuma [4]. Os melhores atletas são quase sempre muito organizados, otimistas e esperançosos! Trabalham duro para que tudo dê certo. E, talvez mais importante, querem realmente vencer, mas também ter um bom desempenho. Sabem que precisam se esforçar para desenvolver sua capacidade e habilidades, e não apenas ser melhores que os outros.
A sua visão sobre a vitória e a derrota é parte importante de sua experiência esportiva e pode determinar se você será um atleta de elite ou não. A maioria dos atletas não vence nem obtém sucesso todas as vezes: com efeito, isso é bastante incomum! Muitos seguem um caminho acidentado até o topo, caem, perdem e se sentem decepcionados. Podem também ter experiências desagradáveis fora do esporte. Fato curioso, alguns dos melhores atletas de todos os tempos precisaram enfrentar enormes desafios enquanto cresciam. Esses obstáculos e desafios tornam os atletas mais resistentes e influenciam sua personalidade! Em ciência, damos a isso o nome de “estrada pedregosa” (Figura 1).
Mesmo Michael Jordan foi preterido na equipe de basquetebol de sua escola! Imagine se ele houvesse parado de jogar por causa disso! Os obstáculos são tão importantes que alguns treinadores procuram trazê-los para o treinamento [5]. Um exemplo: pedir para você jogar com um grupo de atletas mais velhos, o que sem dúvida não será nada fácil. Quando você se defronta com esses obstáculos – na vida real ou no esporte –, o apoio de sua família e de seus treinadores é muito valioso!
Ninguém chega lá sozinho!
Nem os jovens atletas mais habilidosos e talentosos conseguem chegar lá sozinhos. A ajuda da família, sobretudo de pais e tutores, é extremamente importante [6]. Pais/tutores muitas vezes agem como um serviço de táxi, levando o jovem para os treinos e competições; como cozinheiros, preparando-lhe refeições saudáveis e nutritivas; como bancos, pagando seu equipamento e seu treinador; como seu torcedor número um, dizendo-lhe coisas positivas e apoiando-o quer ele jogue bem ou mal. O apoio dos pais/tutores é ainda mais importante quando o jovem está tendo problemas ou enfrentando os tais obstáculos na estrada – ele pode ter se machucado, achar difícil aprender uma nova técnica ou não estar jogando tão bem quanto gostaria. Muitos atletas agradecem a seus pais depois de ganhar uma medalha de ouro ou quebrar um recorde, pois sabem que, sem eles, não teriam conquistado nada disso.
Outros membros de sua família também podem aumentar suas chances de chegar ao topo. Se você mora perto de parentes como avós, tios, tias e irmãos mais velhos, ótimo: eles podem ajudá-lo em algumas tarefas que geralmente cabem aos pais/tutores. Assim, estes ficam menos estressados e lhe dão o melhor apoio. Ter irmãos mais velhos é especialmente útil para aumentar as chances de alguém se tornar um atleta de elite [2].
Jovens atletas, ao observarem seus irmãos mais velhos, acabam desejando praticar mais esportes e trabalhar mais duro do que eles. Às vezes, um irmão que pratica o mesmo esporte atua como um companheiro de equipe, mas também como um competidor. Quando irmãos competem, os jovens atletas costumam ter um desempenho melhor. Pense nas irmãs tenistas Venus e Serena Williams: elas treinavam juntas o tempo todo quando crianças e depois se tornaram rivais nas quadras. Serena é mais nova que Venus, mas geralmente a derrota – talvez pelas razões expressas acima!
Conclusão
Mesmo que você seja muito habilidoso, tenha nascido no lugar certo e conte com o apoio incondicional de seus pais (ver Figura 2), talvez ainda assim não se torne um atleta de elite. A sorte também representa um fator importante – afinal, é ela que o faz nascer numa cidade grande ou pequena! Alguns jovens atletas têm mais sorte que outros. Por exemplo, uns sofrem lesões graves, que os impedem de continuar atuando. Isso é um grande azar. Outros se saem bem justamente quando uma pessoa importante está assistindo ao jogo… e acabam convocados para uma equipe especial. Isso é uma grande sorte.
Infelizmente, não há nada que possamos fazer para ter sorte. Entretanto, se você praticar vários esportes quando jovem, gostar de ação, divertir-se treinando, der o melhor de si e não se preocupar com erros ou trapalhadas que possa cometer, estará fazendo todo o possível para aumentar suas chances de sucesso!
Glossário:
Azarão: Competidor que aparentemente tem menos chances de vencer uma luta ou jogo.
Personalidade: Maneira como a pessoa geralmente pensa, sente e age no dia a dia.
Otimista: Aquele que confia e tem esperança no futuro.
Nutritivo: Que contém quantidades suficientes de substâncias necessárias à vida e ao crescimento.
Agradecimentos
Somos gratos às nossas jovens revisoras, Leilani e Zelya, bem como aos alunos da Hyde Park Junior School, que também deram suas dicas na fase de pré-revisão.
Referências
[1] Gibbs, B. G., Jarvis, J. A. e Dufur, M. J. 2012. “The rise of the underdog? The relative age effect reversal among Canadian-born NHL hockey players: a reply to Nolan and Howell.” Int. Rev. Sociol. Sport. 47:644–9. DOI: 10.1177/1012690211414343.
[2] Hancock, D. J. e Côté, J. 2014. “Birth advantages, social agents, and development in youth sport”, em Positive Human Functioning from a Multidimensional Perspective: Promoting High Performance, orgs. A. R. Gomes Resende e A. Albuquerque (New York, NY: Nova Publishers), pp. 14–32.
[3] Côté, J., Baker, J. e Abernethy, B. 2007. “Practice and play in the development of sport expertise”, em Handbook of Sports Psychology, 3rd ed., orgs. R. Eklund e G. Tenenbaum (Hoboken, NJ: Wiley), pp. 184–202. DOI: 10.1002/9781118270011.ch8.
[4] Hardy, L., Barlow, M., Evans, L., Rees, T., Woodman, T. e Warr, C. 2017. “Great British medallists: psychosocial biographies of super-elite and elite athletes from olympic sports.” Prog. Brain. Res. 232:1–119. DOI: 10.1016/bs.pbr.2017.03.004.
[5] Collins, D., MacNamara, A. e McCarthy, N. 2016. “Putting the bumps in the rocky road: optimizing the pathway to excellence.” Front. Psychol. 7:1482. DOI: 10.3389/fpsyg.2016.01482.
[6] Henriksen, K., Knight, C. J. e Daurte, A. 2020. “Talent development environments”, em The Routledge International Encyclopedia of Sport and Exercise Psychology: Applied and Practical Measures, v. 2, orgs. D. Hackford e R. Schinke (Abingdon: Routledge), pp. 658–70.
Citação
Knight, C. e Gottwald, V. (2022). “Talent development in sport: how do you make it to the top?” Front. Young Minds. 10:684710. DOI: 10.3389/frym.2022.684710.
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