O que há de bom no sangue?
Autores
Addie B. Spier, Colin E. Evans
Jovens revisores
Resumo
O sangue é o líquido vermelho que você vê quando sua pele se corta ou é arranhada. As pessoas pensam que o sangue é algo ruim, porque o veem quando se machucam, quando estão doentes no hospital e em filmes de terror. Mas o sangue é necessário para manter nosso corpo vivo e saudável. O que acontece quando você sangra? E o que acontece quando o fluxo sanguíneo é bloqueado? Neste artigo curto, explicaremos como e por que o sangue é algo bom. Também lhe diremos como os médicos e os cientistas podem ajudar nos casos de problemas sanguíneos.
Pontos-chave
O sangue saudável e as crostas são necessários para nosso bem-estar. O excesso de sangramento e de coágulos sanguíneos não é algo saudável. Os médicos e cientistas trabalham em conjunto para encontrar métodos mais eficazes de interromper sangramentos e coágulos sanguíneos e para ajudar as pessoas a se recuperarem de doenças do sangue.
Sangue
O sangue se move pelo corpo passando por dentro de tubos flexíveis chamados vasos sanguíneos. O movimento do sangue é chamado de fluxo sanguíneo. O sangue flui por vasos sanguíneos como a água flui por uma mangueira, a fim de levar nutrientes e oxigênio às várias partes do corpo. O oxigênio viaja no sangue em pequenos “botes salva-vidas” chamados glóbulos vermelhos. Essas células contêm uma proteína vermelha chamada hemoglobina. O fluxo sanguíneo permite aos músculos e órgãos do corpo desempenharem suas funções. Por exemplo, o sangue que flui para seu cérebro permite que você pense, o sangue que flui para suas pernas permite que você ande, e o sangue que flui para sua boca permite que você fale e coma.
É importante que o sangue flua pelos vasos sanguíneos porque ele mantém o corpo funcionando normalmente. A fim de conservar o sangue em seu interior, os vasos sanguíneos são revestidos por pequenas células planas chamadas células endoteliais, que atuam como barreiras que impedem o vazamento do líquido. Mas às vezes as coisas dão errado! Exemplos de problemas com o sangue incluem cortes e coágulos sanguíneos.
Cortes e crostas
Quando você cai e arranha a pele, os pequenos vasos sanguíneos embaixo dela se rompem. Daí o sangue vaza dos vasos para a pele. Isso é o sangramento. Sangramentos nasais em geral acontecem quando a pessoa bate o nariz em algo, e rompem-se os vasos sanguíneos locais. O sangramento nasal também pode ocorrer sem causa aparente, devido a mudanças na pressão do ar ou a vazamentos nos vasos internos. Para estancar o sangramento, o sangue e os vasos sanguíneos iniciam uma resposta rápida [1]. Primeiro, pequenas células “pegajosas” do sangue, chamadas plaquetas, se unem no local do corte, um processo chamado coagulação sanguínea. A coagulação tapa os buracos dos vasos sanguíneos e para o sangramento. Além disso, células auxiliares chamadas glóbulos brancos acorrem para proteger o corpo contra germes e sujeira. Essas células também ajudam a reparar os vasos sanguíneos.
Novas células endoteliais se formam no local em que o vaso sanguíneo foi rompido, a fim de consertá-lo e normalizar o fluxo do sangue. Como as células são muito pequenas, só podemos vê-las quando estão unidas num aglomerado na pele. Esse grupo de células e os laços fibrosos que as conectam são chamados de crosta.
As crostas mudam de cor, tamanho e forma durante vários dias porque as células estão trabalhando para reparar os vasos sanguíneos rompidos. Quando as crostas terminam seu trabalho, elas caem! Você pode conceber os cortes e crostas desta forma: imagine tirar a tampa de uma banheira ou pia. A água escorrerá pelo ralo. Você poderá diminuir o fluxo usando a mão para cobrir o ralo ou interromper completamente o fluxo recolocando a tampa. Se a pele estiver sangrando muito, algumas ações vão ajudar (Figura 1).
Primeiro, é útil pressionar a lesão para afastar o sangue dos vasos rompidos. Também pode ser útil levantar bem a parte lesionada porque isso torna mais difícil o sangue chegar ao vaso rompido. Para proteger os vasos sanguíneos rompidos e acelerar o processo de reparo, convém aplicar uma bandagem ou band-aid em torno da área lesionada. É importante observar a pele durante alguns dias após o término da cicatrização, para verificar se tudo está normal. Se uma pessoa tiver um corte grande ou precisar de uma cirurgia, os médicos usarão pequenos pedaços de barbante, chamados pontos, para unir novamente a pele lesionada. Durante a cirurgia, os médicos usam também instrumentos especiais para reduzir a quantidade de sangramento.
Os cientistas estão tentando descobrir mais sobre as células que participam da reparação dos vasos sanguíneos [1, 2]. Por exemplo, querem saber como as células chegam ao lugar certo na hora certa, como se comunicam com as outras células ao seu redor e o que fazem para ajudar na reparação dos vasos.
Coágulos sanguíneos
Um coágulo sanguíneo (também chamado de trombo) é um nódulo mole de células sanguíneas. É bom que coágulos se formem para impedir o sangue de escapar para fora do corpo, mas é mau que o impeçam de fluir dentro de um vaso sanguíneo – o que acontece num pequeno número de pessoas (Figura 2). Os coágulos sanguíneos são compostos de plaquetas, glóbulos brancos e glóbulos vermelhos. Esses nódulos ocorrem dentro de um vaso sanguíneo quando o sangue está mais espesso do que o normal, quando a parede interna do vaso está lesionada ou quando o fluxo é reduzido [3]. Pessoas jovens em geral não têm esse problema. Os coágulos sanguíneos dentro dos vasos podem impedir que o sangue chegue a partes importantes do corpo, como pulmões, coração e cérebro.
Felizmente, ocorre uma resposta corporal que ajuda a desfazer o coágulo [4]. Os glóbulos brancos e as células endoteliais trabalham juntos para reduzir o tamanho do coágulo e criar novos canais dentro dele, o que permite que o sangue flua através e ao redor do coágulo. Esse processo é chamado de resolução do trombo, mas infelizmente pode demorar muito. Algumas pessoas apresentam outros problemas após a formação de um coágulo sanguíneo, incluindo dor nas pernas, inchaço e dificuldade para andar. Visualize esse processo assim: imagine alguns carros viajando por uma estrada. Se houver um acidente, todos eles terão de desacelerar ou parar. Em seguida, chegam veículos do serviço de emergência para resolver o problema e liberar a pista, de modo que os carros possam voltar a circular normalmente.
Os médicos administram medicamentos às pessoas com coágulos sanguíneos para impedir a coagulação do sangue. Esses medicamentos atuam tornando o sangue menos espesso e retardando o processo de coagulação. Os medicamentos incluem drogas chamadas anticoagulantes. Os médicos também costumam recomendar bandagens e meias elásticas que pressionem a parte externa do braço e da perna para manter o fluxo de sangue. Outra coisa que podem fazer é fragmentar o coágulo sanguíneo dando à pessoa algum medicamento ou utilizando equipamento hospitalar especial.
Os cientistas estão tentando descobrir como e por que as células sanguíneas se juntam e se dispersam [5]. Um de seus grandes objetivos é encontrar maneiras de impedir a formação de coágulos dentro dos vasos sanguíneos e acelerar a fragmentação dos trombos.
Glossário
Glóbulos vermelhos: Células salva-vidas que transportam ar para várias partes do corpo.
Hemoglobina: Proteína responsável por transportar oxigênio em glóbulos vermelhos.
Células endoteliais: Células planas que formam uma barreira no interior dos vasos sanguíneos.
Plaquetas: Células pequenas e pegajosas que se unem para fechar vasos sanguíneos rompidos.
Glóbulos brancos: Células auxiliares que protegem o corpo contra infecções.
Coágulo sanguíneo: Também chamado de trombo; um grupo de células sanguíneas que se aglomeram para curar uma ferida (bom) ou dentro de um vaso sanguíneo (ruim).
Trombo: Coágulo dentro de um vaso sanguíneo.
Resolução do trombo: Processo corporal que remove o trombo.
Anticoagulante: Tipo de medicamento que afina o sangue para reduzir a coagulação sanguínea.
Conflito de interesses
A autora AS foi contratada pela Mercyhealth.
O outro autor declara que a pesquisa foi realizada sem nenhuma relação financeira ou comercial capaz de gerar um conflito de interesses.
Referências
[1] ↑ Singer, A. J. e Clark, R. A. 1999. “Cutaneous wound healing.” N. Engl. J. Med. 341:738–46. DOI: 10.1056/NEJM199909023411006.
[2] ↑ Evans, C. E., Iruela-Arispe, M. L. e Zhao, Y. Y. 2021. “Mechanisms of endothelial regeneration and vascular repair and their application to regenerative medicine.” Am. J. Pathol. 191:52–65. DOI: 10.1016/j.ajpath.2020.10.001.
[3] ↑ Bagot, C. N. e Arya, R. 2008. “Virchow and his triad: a question of attribution.” Br. J. Haematol. 143:180–90. DOI: 10.1111/j.1365-2141.2008.07323.x.
[4] ↑ Modarai, B., Burnand, K. G., Humphries, J., Waltham, M. e Smith, A. 2005. “The role of neovascularisation in the resolution of venous thrombus.” Thromb. Haemost. 9380 –9. DOI: 10.1160/TH04-09-0596.
[5] ↑ Furie, B. e Furie, B.C. 2008. “Mechanisms of thrombus formation.” N. Engl. J. Med. 359:938–49. DOI: 10.1056/NEJMra0801082.
Citação
Spier, A. B. e Evans, C. E. (2022) “What is good about blood?” Front.Young Minds. 10:854233. DOI: 10.3389/frym.2022.854233.
Encontrou alguma informação errada neste texto?
Entre em contato conosco pelo e-mail:
parajovens@unesp.br