Ideias fundamentais Química e materiais 29 de maio de 2024, 14:41 29/05/2024

Todos os tipos de plástico são prejudiciais ao meio ambiente?

Autores

Jovens revisores

Ilustração de um bioplástico na natureza, uma lupa revela o processo de decomposição do bioplástico por microrganismos.

Resumo

Muitos dos objetos que usamos diariamente são feitos de plásticos criados a partir do petróleo. Como se não bastasse o fato de que o petróleo é um recurso limitado, que se esgotará um dia, os plásticos derivados dele se decompõem muito lentamente no ambiente, gerando poluição. Temos aí um grande problema porque esses plásticos vêm se acumulando desde que os humanos começaram a fabricá-los. Neste artigo, mostraremos o que são os plásticos e o que podemos fazer para combater a poluição que eles geram. Uma saída talvez seja o uso de bioplásticos, uma alternativa promissora aos plásticos derivados do petróleo e que cria muitos dos mesmos objetos. Os bioplásticos não causam poluição porque se decompõem naturalmente pela ação de micro-organismos no meio ambiente. O que é a poluição pelos plásticos, e por que ela é prejudicial ao nosso planeta? Você já se perguntou por que devemos nos preocupar com a poluição plástica? Já é muito tarde para ajudar a proteger nosso planeta dos plásticos? Aqui, responderemos a essas perguntas e daremos algumas sugestões para amenizar o problema da poluição do plástico.

O que é o plástico?

Plásticos são substâncias sólidas formadas por longas cadeias de moléculas que contêm carbono, chamadas polímeros de carbono. Os blocos de construção individuais dos polímeros são os monômeros (Figura 1). Cada um dos monômeros dos vários tipos de plásticos tem sua própria estrutura química, mas todos são compostos principalmente de carbono. As cadeias de polímeros de carbono podem ser transformadas em plásticos para muitos usos diferentes.

Figura 1. (A) Brinquedos e outros itens de plástico são formados de longas cadeias chamadas polímeros de carbono. (B) Polímeros de carbono são compostos de cadeias de blocos de construção chamados monômeros. (C, D) Há vários tipos de monômeros que podem formar polímeros de plásticos. 

Os polímeros podem ser classificados em dois tipos, com base na espécie de monômeros que contêm.

Os homopolímeros contêm só um tipo de monômero. Plásticos como polietileno, polipropileno e poliestireno são homopolímeros. Ao contrário, os copolímeros são formados por mais de um tipo de monômero.  Plásticos como tereftalato de polietileno e sucinato de polibutileno são copolímeros. Os plásticos homopolímeros possuem um conjunto de propriedades como dureza, flexibilidade e resistência ao calor. No entanto, as propriedades dos copolímeros são determinadas pelos tipos de monômeros que os compõem, o que permite criar plásticos com propriedades adequadas às nossas necessidades, modificando-se os tipos de monômeros que eles contêm. Isso é ótimo, pois significa que podemos produzir vários tipos de plásticos para fabricar brinquedos, garrafas de água, embalagens de alimentos e sacolas de supermercado, para citar apenas alguns itens plásticos comuns.

Atualmente, utilizamos plásticos para tantas finalidades no dia a dia que é quase impossível imaginar a vida sem eles! 

O uso de plásticos derivados do petróleo é prejudicial?

Os plásticos derivados do petróleo são fabricados segundo processos químicos que criam polímeros de carbono a partir do petróleo, que é uma mistura líquida de óleos e compostos de carbono originados de fósseis enterrados no solo. Os plásticos derivados do petróleo são usados principalmente para fins de embalagem e proteção, mas também para criar uma variedade de objetos que estão praticamente em todos os lugares ao nosso redor: celulares, computadores, geladeiras, carros, televisores, canetas e brinquedos são apenas alguns exemplos. Vale lembrar que o petróleo é uma fonte não renovável, significando que um dia ele vai acabar.

Como o petróleo é usado também para a confecção de outros produtos como gasolina, diesel e querosene, só seremos capazes de produzir plásticos derivados de petróleo enquanto esse recurso natural não se esgotar. Devido ao fato de os plásticos derivados do petróleo serem produtos fabricados pelo homem, é muito difícil para a natureza decompô-los. 

A alta demanda por produtos plásticos resulta na produção de toneladas de plásticos derivadas do petróleo. Muitos desses plásticos que são feitos especialmente para serem usados uma vez e descartados se acumulam em quase todos os ecossistemas do mundo. Isso resulta em poluição plástica, frequentemente chamada de poluição branca [1, 2], que afeta negativamente o meio ambiente. Por exemplo, plásticos descartados impropriamente em áreas naturais como florestas, campos, rios e mares podem permanecer nesses ecossistemas durante anos porque nem a natureza nem os animais conseguem degradá-los. Infelizmente, os animais costumam engolir plásticos, mas não são capazes de digeri-los, o que às vezes faz com que adoeçam e morram.

O que podemos fazer para reduzir a poluição plástica?

Podemos fazer muitas coisas para proteger nosso planeta. Há duas estratégias principais para poupar o meio ambiente da poluição plástica. A primeira é seguir a regra dos 3-Rs (reduzir, reutilizar e reciclar). Reduza a quantidade de plástico que você compra e usa diariamente. Reutilize esses produtos usando-os mais de uma vez ou dando-lhes uma nova finalidade. Recicle-os para que possam ser derretidos e transformados em novos produtos. A regra dos 3-Rs pode ser praticada em nossas casas, escolas e empresas. É um primeiro passo simples e de fácil aplicação que todos podem dar para reduzir a poluição plástica. A segunda estratégia é usar um tipo de plástico chamado bioplástico, que poderia substituir todos os plásticos derivados do petróleo. Continue lendo para saber mais! 

O que é um bioplástico?

Os bioplásticos não são uma novidade tão grande quanto se poderia pensar. Eles existem na natureza há mais tempo que os plásticos derivados do petróleo. Assim como os plásticos derivados do petróleo, os bioplásticos são também polímeros de carbono, mas sintetizados por micro-organismos no meio ambiente, a partir de materiais orgânicos (materiais de carbono, feitos pela natureza) ao invés de petróleo. Uma vez que os bioplásticos são feitos de materiais orgânicos, seus blocos de construção não se esgotarão, como acontece no caso dos plásticos derivados do petróleo. Na natureza, os micro-organismos produzem bioplásticos como uma maneira de armazenar energia e depois os consomem graças a um processo conhecido como biodegradação.

A biodegradação é parecida com a digestão [3, 4]. A biodegradação de bioplásticos cria a energia de que os micro-organismos precisam para crescer e respirar, produzindo carbono que possam usar em outros processos.

Os bioplásticos possuem propriedades parecidas com as dos produtos plásticos derivados do petróleo, que são manufaturados. Exatamente como os plásticos derivados do petróleo, as propriedades dos bioplásticos podem ser modificadas pelas mudanças nos monômeros de que são feitos. Embora os bioplásticos e plásticos derivados do petróleo sejam parecidos e possam ser usados das mesmas maneiras, os bioplásticos têm mais uma grande vantagem: são ecologicamente corretos e não poluem o meio ambiente. Quando descartamos os bioplásticos, eles podem ser descartados pelos micro-organismos que existem no meio ambiente [3, 4].

O resultado é que os bioplásticos não contribuem para a poluição plástica. Isso faz deles uma grande alternativa, tanto para as empresas quanto para pessoas como você, que usa produtos plásticos. Os bioplásticos estão sendo usados hoje para produzir embalagens, partes artificiais do corpo, recipientes para entrega de medicamentos, órgãos e pele artificiais, e até roupas [3, 4].  Lembre-se de que, na natureza, os bioplásticos são facilmente reconhecidos e biodegradados por micro-organismos. Infelizmente, nós não podemos distinguir os bioplásticos dos plásticos derivados do petróleo, como fazem os micro-organismos. Temos que fazer testes em laboratório para identificá-los. Por isso, costumamos etiquetar os produtos de bioplásticos para reconhecê-los facilmente, o que torna mais fácil escolhê-los e utilizá-los em vez dos plásticos de petróleo.

Conclusão

Agora você sabe que os bioplásticos são uma alternativa ecologicamente correta aos plásticos derivados do petróleo. Com esse conhecimento, podemos adicionar um S aos 3 Rs: reduzir, reutilizar, reciclar e substituir. Substituir os plásticos derivados do petróleo por bioplásticos pode ser a chave para combater ainda mais a poluição plástica. A ciência está avançando e descobrindo uma ampla variedade de bioplásticos. Em breve caberá a todos nós preservar e proteger o ambiente, utilizando mais bioplásticos em vez de plásticos derivados do petróleo. 

Glossário

Polímeros: Materiais compostos de unidades similares de “monômeros” unidas e repetidas um grande número de vezes. 

Monômeros: Blocos de construção ou unidades que formam um polímero. Têm uma estrutura química específica, composta majoritariamente de carbono. 

Homopolímeros: Polímeros que só contêm uma unidade repetida de monômero simples.

Copolímeros: Polímeros que contêm mais do que um monômero repetido.

Plásticos derivados do petróleo: Plásticos criados a partir de polímeros derivados de compostos do petróleo. 

Bioplástico: Plástico biodegradável produzido por micro-organismos que para isso usam materiais orgânicos. 

Materiais orgânicos: Materiais que possuem principalmente carbono, feitos pela natureza e biodegradáveis por ela. 

Biodegradação: Processo biológico realizado por micro-organismos a fim de transformar materiais orgânicos em energia e carbono que podem ser usados para outros propósitos. 

Referências

[1] Ali, S. S., Elsamahy, T., Koutra, E., Kornaros, M., El-Sheekh, M., Abdelkarim, E. A. et al. 2021. “Degradation of conventional plastic wastes in the environment: a review on current status of knowledge and future perspectives of disposal.” Sci. Total. Environ. 771:144719. DOI: 10.1016/j.scitotenv.2020.144719.

[2] Raddadi, N. e Fava, F. 2019. “Biodegradation of oil-based plastics in the environment: existing knowlwdge and needs of research and innovation.” Sci. Total Environ. 679:148–58. DOI: 10.1016/j.scitotenv.2019.04.419.

[3] Kalia, V. C., Singh Patel, S. K., Shanmugan, R. e Lee, J. K. 2021. “Polyhydroxyalkanoates: trends and advances toward biotechnological applications.” Bioresour. Technol. 326:124737. DOI:10.1016/j.biortech.2021.124737.

[4] ↑ Shahid, S., Razzaq, S., Farooq, R. e Nazli, Z. H. 2021. “Polyhdroxyalkanoates: next generation natural biomolecules and a solution for the world’s future economy.” Int. J. Biol. Macromol. 166:297–321. DOI: 10.1016/j.ijbiomac. 2020.10.187.

Citação

Palma Gallardo, L. O. e Alba Flores, J. (2022). “Do all plastics damage the environment?” Front. Young Minds. 10:722532. DOI: 10.3389/frym.2022.722532.

Agradecimentos

A César Arturo Cuautle Hernández, Gurusamy Kutralam-Munissamy e Victor German Rodríguez García, nossos agradecimentos por suas sugestões para a edição.

 

 

 

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