Biodiversidade 2 de outubro de 2024, 16:15 02/10/2024

Animais que ajudam animais: como os cães detetives podem ajudar a salvar espécies ameaçadas de extinção

Autores

Jovens revisores

Resumo

Cães estão trabalhando ao lado de seres humanos para ajudar a proteger animais selvagens em risco de extinção. Profissionais da área de conservação animal estão treinando cães, cujos narizes poderosos são capazes de farejar a passagem de certas espécies que correm o risco de desaparecer. Os cães ajudam seus treinadores humanos encontrando os excrementos (fezes!) que membros dessas espécies deixaram para trás. Os excrementos contêm informações importantes sobre elas, e nos ajudam a preservar suas populações. Neste artigo, você aprenderá por que algumas espécies de animais estão ameaçadas, por que o estudo das fezes é tão importante e como as equipes que juntam cães e pessoas podem trabalhar para rastreá-las.

Introdução

Você provavelmente já conhece alguns dos muitos trabalhos que os cachorros são capazes de executar. Por exemplo, cães usam seu olfato apurado para ajudar a polícia a encontrar uma pessoa desaparecida ou detectar coisas perigosas como bombas ou drogas ilegais. Mas você sabia que alguns cães trabalham com os humanos ensinando-lhes muita coisa sobre espécies de animais em extinção? Eles nos ajudam a localizar excrementos, palavra que os cientistas usam para “fezes”. Mas como a localização de excrementos pode ajudar os cientistas a proteger animais ameaçados de extinção? Continue lendo para descobrir.

Por que alguns animais estão ameaçados de extinção?

Um ecossistema é uma comunidade existente na natureza onde fatores bióticos (coisas vivas, como animais e plantas) e fatores abióticos (coisas não vivas, como o sol, a terra, a água e nutrientes) atuam juntos para sustentar a vida. Em um ecossistema saudável, há equilíbrio. Quando ocorrem muitas mudanças em um dos fatores, o ecossistema fica desiquilibrado. Por exemplo, se houver muita luz solar, a terra secará, as plantas morrerão e restará menos comida disponível para os animais que se alimentam dessas plantas. Nos ecossistemas, os organismos vivos têm importantes funções que preservam o equilíbrio: como produtores, consumidores e decompositores (Figura 1). 

Figura 1. Os produtores, no quadro acima, são as plantas que podem fabricar seu próprio alimento convertendo a luz solar em energia e liberando oxigênio na atmosfera. Os consumidores dependem dos produtores para obter energia. Por exemplo, os furões-de- pés-pretos são carnívoros que comem outros animais dependentes das plantas para sua alimentação. Os seres humanos são consumidores também; muitas pessoas são onívoras, isto é, comem tanto plantas quanto outros animais. A terceira função em um ecossistema fica a cargo dos decompositores, organismos que desintegram a matéria orgânica, como folhas caídas, galhos de árvores e excrementos de animais, para que os produtores possam crescer em solos ricos e nutritivos. 

Todos os fatores e funções em um ecossistema interagem para garantir que ele funcione adequadamente. Se o equilíbrio natural do ecossistema se romper, as espécies que vivem ali estarão em perigo. Infelizmente, isso vem se tornando cada vez mais comum em todo o mundo. Os animais perderam seus habitats e muitas espécies estão ameaçadas de extinção, enquanto outras estão extintas. Mas os cientistas conservacionistas e seus parceiros caninos trabalham duro para trazer o ecossistema de volta a um equilíbrio saudável. E fazem isso de uma forma surpreendente: examinando as fezes de espécies ameaçadas de extinção. 

Examinar fezes nos ensina muita coisa sobre as espécies ameaçadas de extinção

O DNA é um material biológico que contém todas as informações importantes sobre a função e a aparência dos organismos vivos. Cada indivíduo possui seu próprio perfil de DNA, e os indivíduos que pertencem a mesma espécie têm perfis de DNA semelhantes. As fezes contêm DNA, o que torna sua coleta uma ótima maneira de obter informações biológicas sobre o animal e os alimentos que ele comeu. 

Quando os cientistas conseguem encontrar as fezes deixadas por uma espécie ameaçada, eles obtêm dados úteis sobre a espécie sem nunca ter entrado em contato direto com os animais. Elas fornecem, por exemplo, informações sobre o que o animal comeu, se é macho ou fêmea e se tem problemas de saúde como parasitas ou doenças. As fezes também dão informações sobre como as espécies estão interagindo. Por exemplo, se forem encontrados restos de alimentos semelhantes nas fezes de duas espécies, ambas podem estar competindo pelo mesmo alimento. Desse modo, os cientistas tentam aumentar a disponibilidade de alimentos para as espécies ameaçadas e isso ajuda a conservar os animais [1]. 

A localização das fezes também é importante porque informa aos cientistas onde o animal ameaçado se encontra: estará ele vivendo em uma área repleta de contaminantes ambientais, como bactérias, vírus ou lixo humano? Quando os cientistas constatam a existência desses contaminantes, as autoridades competentes devem ser avisadas para ajudar a prevenir o agravamento do problema, garantindo um ambiente mais seguro e um ecossistema mais estável. Isso pode variar desde a remoção de produtos químicos do solo e da água até a transferência de animais para áreas mais seguras. 

Cães de detecção ajudam os humanos a encontrar fezes

Sabemos, portanto, que o exame das fezes é uma parte importante para as atividades de conservação dos animais; mas, para começar, como os cientistas encontram as fezes? Os cães podem ser treinados para encontrar odores específicos e “informar” aos seus tratadores (com um latido ou outro comportamento) onde está localizada a origem do odor. Um tipo de odor que os cães podem ser treinados para localizar é o das fezes de uma determinada espécie ameaçada (Figura 2). Os cães são melhores que os seres humanos nessa função! Na detecção de fezes de coalas, por exemplo, os cães de conservação foram dezenove vezes mais rápidos do que os especialistas humanos [2]. Isso significa que um cão pode encontrar até dezenove amostras antes que uma equipe formada só por humanos encontre apenas uma. 

Figura 2. Quando os cães encontram a fonte de um odor que foram treinados para detectar – como o das fezes do furão-de-pés-pretos –, notificam seu tratador humano mudando de comportamento (sentando-se, latindo ou ficando quietos). 

Os cães localizam fezes com o olfato até em locais que são inacessíveis aos olhos humanos. Uma vez que alguns animais eliminam pouca quantidade de fezes, estas podem facilmente ser cobertas e escondidas por plantas grandes, folhas e pedras. Os cães usam o focinho para farejar por baixo de todos esses obstáculos. Portanto, eles encontram as fezes não apenas mais rapidamente do que os humanos, como conseguem fazê-lo em áreas onde estes têm dificuldade para se movimentar. [3]. 

Preparação da equipe de detecção formada por cães e humanos

Embora os cães colaborem com seus narizes poderosos, o importante trabalho de encontrar excrementos não pode ser feito sem os humanos. Para que uma equipe se mostre eficiente é necessário muito esforço e comunicação, tanto por parte do cão quanto por parte do seu treinador. O treinamento em equipe pode levar muitos meses para ser concluído. Primeiro, os cães devem aprender a detectar certos odores, como o odor específico das fezes dos furões-de- pés-pretos. Depois que aprendem a detectar esse odor importante, eles e seus treinadores se preparam para o trabalho em dupla enveredando por ambientes hostis e, às vezes, perigosos. Isso fortalece a capacidade de trabalho em equipe dos dois e aumenta sua segurança no campo enquanto procuram excrementos deixados pelos animais ameaçados de extinção (Figura 3). 

Figura 3. Benny (acima) e Finn (abaixo) estão trabalhando com Lauren Wendt para detectar fezes de furões-de- pés-pretos. Os cães estão aprendendo que encontrar a origem de certos odores – como as fezes de uma determinada espécie – é importante para Lauren e levará à obtenção de uma recompensa. (Foto de Working Dogs for Conservation; Licensing Agreement CC BY 2.0.) 

Os tratadores humanos precisam manter a si mesmos e a seus cães seguros. Eles providenciam, para os cães detectores, equipamentos de proteção como coletes de alta visibilidade, arneses adequados e, em alguns casos, botas resistentes. Os tratadores também devem ficar atentos ao que se passa à sua volta para não afugentar outras espécies animais ou perturbar o meio ambiente. 

Detetives desprotegidos: de abrigos a trabalhos de detecção

Infelizmente, não existem tantos lares quanto cães no mundo. Abrigos e sociedades humanitárias fazem o possível para realojar o maior número possível de cães, mas alguns não serão adotados porque têm muita energia e parecem excessivamente ativos. Não são bichinhos de estimação ideais para uma vida tranquila em casa, mas fazem um ótimo trabalho de detecção. Fundações como a WorkingDogsforConservation montam abrigos, procuram, adotam e treinam esses cães irrequietos e de alta energia, fazendo bom uso de suas qualidades. Assim, esses os cães encontram um propósito e um lar onde podem nos ajudar a salvar espécies ameaçadas. 

Alguns pensamentos finais

Neste artigo, você aprendeu por que alguns animais estão ameaçados, por que o estudo das fezes é tão importante e como cães e humanos podem trabalhar juntos para encontrar excrementos. Você leu sobre o modo como cães são treinados para executar trabalhos de conservação – mas e quanto aos humanos? Existem inúmeros cursos para pessoas que desejam se envolver no treinamento de cães e na pesquisa, incluindo o estudo de psicologia e biologia. Além disso, você pode ser voluntário em trabalhos de conservação na sua comunidade. Todos devemos atuar juntos para salvar espécies ameaçadas! 

Glossário

Fezes: Excrementos ou “cocô” de animais. 

Ecossistema: Qualquer comunidade de seres vivos e a área onde vivem. Um ecossistema inclui fatores abióticos (sol, água e terra) e fatores bióticos (plantas e animais), que trabalham juntos para equilibrar a vida. 

Fatores bióticos: Partes vivas de um ecossistema, como os animais e as plantas. 

Fatores abióticos: Partes não vivas de um ecossistema, como o sol, a terra e a água. 

(Espécies) ameaçadas de extinção: Uma espécie é considerada em extinção quando o tamanho de sua população diminui tanto que ela quase desaparece; a menos que receba ajuda específica, logo deixará de existir. 

Extintas: Espécie sem membros vivos ou que não mais existe. Diz-se que uma espécie está extinta quando desapareceu da Terra. A extinção é um processo tipicamente vagaroso. 

DNA: Material biológico importante que contém todas as informações necessárias para um ser vivo funcionar e crescer. O DNA passa de pai para filho. 

Contaminantes ambientais: Qualquer substância química adicionada a um ecossistema e que causa danos. Os humanos são as maiores fontes de contaminantes ambientais. 

Referências

[1] Orkin, J. D., Yang, Y., Yang, C., Yu, D. W. e Jiang, X. 2016. “Cost-effective scat-detection dogs: unleashing a powerful new tool for International Mammalian Conservation Biology.” Sci. Rep. 6:34758. DOI: 10.1038/srep34758.

[2] Cristescu, R. H., Foley, E., Markula, A., Jackson, G., Jones, D. e Frère, C. 2015. “Accuracy and efficiency of detection dogs: a powerful new tool for koala conservation and management.” Sci. Rep. 5:8349. DOI: 10.1038/srep08349.

[3] Bennett, E., Jamieson, L. T., Florent, S. N., Gill, N., Hauser, C. e Cristescu, R. 2022. “Detection dogs provide a powerful method for conservation surveys.” Austral Ecol. 47:894–901. DOI: 10.1111/aec.13162. 

Citação

Burrows, H. M. R., McCreary,  M. K., Shore, M. J., Pinheiro, S. G. V. e Kuhlmeier, V. A. (2023). “Animals helping animals: how dog detectives can help save endangered species.” Front. Young Minds. 11:1023547. DOI: 10.3389/frym.2023.1023547. 

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